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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A dor havia entrado com ela em sua própria casa! ...e, apesar de triste, tinha teimado em agarrar-se a Lura como se da sua própria sombra se tratasse! A dor, confundida, na ausência do Sol, achava que de facto podia ser a sombra dela e deixar de se sentir  a intrusa que se lhe agarrava ao peito.
Só o Sol quando aparecia lhe matava aquela malvada dúvida e as deixava apaziguar.

Tinha a mesma sensação quando comia uma romã... um fruto singular que acalmava tudo o que sentia em dias de turbulência. Dentro e fora de si, Divino e delicado...Luna,  só tinha um sonho! Amar e comer romãs...

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

De olhos bem fechados, os odores quentes e ocres tomavam conta de si na mesma velocidade que as folhas das árvores precediam o Inverno! O Outono da vida fazia-se notar sobretudo no seu rosto! ...e, cada folha que se precipitava  no sentido do chão e se soltava daquela árvore madura, recordava.lhe momentos passados que um dia estiveram presentes no centro da vida de Luna, A humidade atravessava o ar e os corpos que se tornavam pegajosos nas primeiras horas do dia. Acordávamos e adormecíamos quase sem fôlego.

As montanhas, longe do olhar alheio, pareciam adamastores envergonhados, gente invulgar e sem rosto, prontas avançar na nossa direcção!

 De lábios semicerrados, a medo, abria devagar as persianas do rosto banhado em suor, que lhe realçava o tom escuro da pele fustigada pelo sol do verão acabado de se despedir, para aos poucos dar conta de uma Lua gigante no céu que olhava fixamente para si!

Luna, temia o pior! O momento que vivenciava, neste preciso instante, faziam-na lembrar horrores de épocas passadas com as quais não aprendera a conviver, ainda! Tudo lhe parecia ora diferente, ora igual, ora igual, ora diferente! Teorizava para dentro de si - havia anos que a vida se encarregava de nos colocar à frente dos olhos, vezes sem conta (na verdade, todas as que forem necessárias) a mesma coisa!,,, melhor dizendo! o mesmo problema de aritmética para resolver com números diferentes! A intenção era clara e ao que parece, sempre a mesma! Chegar ao resultado x! ...no entanto, enquanto não mostrássemos a nós próprios que éramos dignos de realizar tamanha prova, jamais sairíamos do mesmo lugar, onde um dia, havíamos ficado presos. Luna tinha sido uma excelente aluna a matemática quando estudante, mas incapaz de resolver operações sem números, mas com pessoas!...anos, após anos, sempre a mesma equação por resolver!...

Vencida pelo cansaço, de ombros caídos, corpo arrastado e olhos de interrogação, sem quaisquer certezas do que via à sua frente, a Lua gigante teimava em cegá-la sem querer! Era chegado o último crepúsculo e com ele o tempo compreendido entre o vespertino e o matutino, o momento exacto e único em que Luna se sentia confundida, entre o sonho e a realidade!

...

sábado, 4 de outubro de 2014

...Já oiço ao longe a tempestade...

O céu muda de cor;  passa de azul e branco transparente, a cinzento opaco. 
O vento chama por ela. Primeiro baixinho e depois vai levantando a voz. E, as poucas folhas da árvore de sempre, agitam-se de entusiasmo. Gostam de movimento, de euforia, do prenúncio que existe no ar...

A brisa inesperada e fresca anuncia a chuva que a antecede; nas cores, num céu tímido e ao mesmo tempo, determinado a deixar cair sobre a terra todas as preces, de mãos levantadas pelos homens nos momentos de desespero. 
A terra, acolhe as primeiras gotas com satisfação e um prazer lascivo. O odor invade tudo e todos.
Os Homens respondem fantasiando, misturando imagens de sonho e de caos, inebriados pela esperança e pela expectativa do que a tempestade pode trazer. Deixam-se levar! Contudo e apesar dos cheiros de prazer sentidos, nada encerra a possibilidade do fim.  Será o interlúdio da transformação há tanto esperada? ...ou,  será apenas mais uma réplica tempestuosa, estéril e inconsequente, que deixará cair por terra as derradeiras esperanças que ainda nos restam do limiar da vida! 

Enquanto isso, o meu corpo treme, por dentro, em uníssono, adivinhando o que está para chegar! Sinto, que me divido em partes desiguais, mas que cada uma delas encerra um sentido! E que de um corpo só, me transformo em dois. Cérebro e coração. Os restantes componentes da  carne perdem agora o significado. É como se não os reconhecesse mais, como se nunca tivessem feito parte de mim. Tento acalmar-me como posso. Falo-me, como se estivesse a falar com outro alguém. 

Dispersa a flutuar no caos em que me encontrava, fui resgatada por uma voz doce...deixei-me ir...

- Onde aprendeste música?
- Ouvindo-te cantar...