Começa a pingar na minha janela… depois do sol envergonhado ter passado por aqui esta manhã… as gotas de chuva empurradas pelo vento, faziam adivinhar que o céu ainda tinha muito para desabafar…
Desde o início deste Inverno que o fazia com frequência, mas este ano em particular e nomeadamente nos últimos meses, estava mais triste e mais sofredor do que nunca… e, por tudo e por nada, os seus olhos ficavam mareados de lágrimas que continha de imediato …Sentia-se mais triste…
Joana olhou-o amedrontada ao ver-lhe a cor carregada, a mágoa sombria e a tristeza expressa no rosto e perguntou-lhe:
- Porquê esse semblante? (Joana, tinha o hábito de conversar com o céu, e ele não confessava a ninguém mas gostava de lhe dar atenção) (Caetano Veloso)
- Por ser obrigado a assistir, aqui do alto, a tudo o que por aí se passa, sem nada poder fazer...(Pensava para si, como se lhe respondesse).
Ele tinha olhos e podia ver, tinha boca mas não conseguia falar…e também tal como nós, de vez em quando, precisava desabafar… Joana, continuava o interrogatório com um olhar doce, à espera de lhe ouvir a voz pelo menos uma vez (podendo ser a primeira e a última). Mas em vão,...ele era de poucas palavras!
Lá no alto, sentia-se muitas vezes só, abandonado e sem ter com quem desabafar. Ao seu lado não tinha ninguém, senão de vez em quando umas nuvens que lhe traziam notícias… mas, apareciam e desapareciam…
O Sol, o seu maior e eterno amigo, nem sempre estava presente. Aparecia só em determinada época do ano para passar férias, para aquecer Joana... e torrar outras tantas que adoravam suga-lo e deixa-lo cansado e a sentir-se fraco…mas, sobretudo sentia-se inútil… todos os anos, no final do Verão, despedia-se do céu com uma sensação estranha de que não servia para mais nada, senão para alimentar coisas vãs do egocentrismo feminino.
Joana era diferente, ele sentia-o…
O Sol, o seu maior e eterno amigo, nem sempre estava presente. Aparecia só em determinada época do ano para passar férias, para aquecer Joana... e torrar outras tantas que adoravam suga-lo e deixa-lo cansado e a sentir-se fraco…mas, sobretudo sentia-se inútil… todos os anos, no final do Verão, despedia-se do céu com uma sensação estranha de que não servia para mais nada, senão para alimentar coisas vãs do egocentrismo feminino.
Joana era diferente, ele sentia-o…
...ela, gostava de lhe fazer companhia e muitas vezes também se sentia acompanhada por ele, sempre que estava sozinha. Tinha a certeza, que um dia levada por uma nuvem iria ter com ele, como fora tantas vezes em sonho…
……
Naquela manhã, saiu de casa à pressa. Chovia. Aliás tinha chovido toda a noite, conforme teve oportunidade de ouvir comentar à entrada do café, onde tinha marcado encontro com a sua melhor amiga, para pôr a conversa em dia...
...e, foi nessa mesma manhã, que o céu já não aguentou e à semelhança de outras vezes, noutros sítios do planeta desabou finalmente sobre tudo, sobre todas as coisas, sobre todos nós, inclusive sobre Joana.
Abateu-se sobre árvores e avessos, sobre basalto e beirais, sobre casas e cochichos, demo (ideia de povo) e dissidentes, sobre…papel, Madeira, fogo… sonhos, vidas e gentes…desabou sem avisar.
Em pouco tempo deixou tudo do avesso… e, alcançou tudo e todos de surpresa…
Gritou ao vento, que levassem Joana para um lugar seguro, lá no alto, perto dele. E pediu também às árvores que tomassem conta dela e não a deixassem resvalar por um qualquer desfiladeiro… Joana, assistia a toda aquela ira de água e vento, que fez desabar histórias, transbordar ribeiras, soltar terras, abrir buracos, partir pontes, … Histórias, que ficaram soterradas, afogadas, dilaceradas, entre pedras e pedregulhos e lama, muita lama… Até, as fontes, onde outrora corria água límpida, jorravam agora água barrenta, que circulava e saía rumo ao mar… Tudo ia em direcção ao mar…
...Parecia que os peixes estavam a reclamar algo que fosse deles, à muito por direito...como se aquela população, se tivesse um dia apoderado indevidamente dos haveres dos peixes e dos seus antepassados, que por graças da aculturação começaram a respirar a plenos pulmões e a andar na vertical …
Joana, do ponto mais alto da ilha para onde tinha sido levada, via tudo aquilo e não entendia!…não acreditava como era possível ao fim de tantos anos não conhecer aquele céu que se deitava e acordava todos os dias por cima de dela… Chamou por ele. Disse-lhe para que parasse, mas ele não a ouvia, concentrado que estava… O barulho era ensurdecedor, Joana voltou a gritar, CÉEEEEEEEEEEUUUUUUUUUUUUUU!!!!!
Envolta em tamanho sofrimento, tentou desembaraçar-se dos ramos das árvores e fugiu,... correu na sua direcção, gritando de novo: Céuuuuuuuuuuuu, párrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaa, por favor!
Nesse mesmo instante, acabou a cair de um penhasco que já esperava por ela… Uma das nuvens, que levava notícias ao céu de vez em quando, agarrou-a, amparou-lhe o corpo e desfalecida, levou-a consigo…
Foi quando a nuvem chegou o mais perto possível do céu com Joana nos braços e que a colocou no seu colo, que este parou e deu tréguas à ilha…
Morreria o céu de culpa se Joana não voltasse acordar. Alguns minutos depois, Joana acordou finalmente, já no céu, abriu os olhos e disse-lhe:
- Céu, precisamos conversar…