...Já oiço ao longe a tempestade...
O céu muda de cor; passa de azul e branco transparente, a cinzento
opaco.
O vento chama por ela. Primeiro baixinho e depois vai
levantando a voz. E, as poucas folhas da árvore de sempre, agitam-se de
entusiasmo. Gostam de movimento, de euforia, do prenúncio que existe no
ar...
A brisa inesperada e fresca anuncia a chuva que a antecede; nas cores,
num céu tímido e ao mesmo tempo, determinado a deixar cair sobre a terra
todas as preces, de mãos levantadas pelos homens nos momentos de
desespero.
A terra, acolhe as primeiras gotas com satisfação e um prazer lascivo. O odor
invade tudo e todos.
Os Homens respondem fantasiando, misturando imagens
de sonho e de caos, inebriados pela esperança e pela expectativa do que a tempestade pode trazer. Deixam-se levar! Contudo e apesar dos cheiros de prazer sentidos, nada encerra a possibilidade do fim. Será o interlúdio da transformação há
tanto esperada? ...ou, será apenas mais uma réplica tempestuosa, estéril e
inconsequente, que deixará cair por terra as derradeiras esperanças que
ainda nos restam do limiar da vida!
Enquanto isso, o meu corpo treme, por dentro,
em uníssono, adivinhando o que está para chegar! Sinto, que me divido
em partes desiguais, mas que cada uma delas encerra um sentido! E que de um corpo só, me transformo em dois.
Cérebro e coração. Os restantes componentes da carne perdem agora
o significado. É como se não os reconhecesse mais, como se nunca
tivessem feito parte de mim. Tento acalmar-me como posso. Falo-me, como
se estivesse a falar com outro alguém.
Dispersa a flutuar no caos em que me encontrava, fui resgatada por uma voz doce...deixei-me ir...
- Onde aprendeste música?
- Ouvindo-te cantar...
Um texto encantador.
ResponderEliminarÀ espera da chuva que lentamente se apodera de tudo e todos acabando por dividi-la em duas partes.
Obg, Luís!
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