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segunda-feira, 22 de março de 2010

...as palavras de Sofia...


Sofia adorava sentir-se abraçada pelas palavras...

Gostava delas, proferidas, lidas, escritas de todas as formas e feitios, temperadas ou sem qualquer tempero,  …sussurradas, ...balbuciadas, grandes, pequenas, fáceis ou complexas, tímidas, extrovertidas, doces, agri-doces, amargas, picantes, azedas e chocantes... nuas, camufladas... no lugar errado ou no momento certo…desde que fossem palavras, proferidas, ditas ou escritas e que significassem alguma coisa...que existissem. Só assim, se sentia acompanhada e nunca só... no vazio.

Senão… bastava-lhe que fossem palavras apenas, desordenadas, soltas, fora do lugar e Sofia entretinha-se a dar-lhes sentidos (uma vez que, já tinham nascido com significados), juntando-as carinhosamente, mesmo que fosse para falar de afectos do avesso… mas sempre com o propósito de traduzir o que sentia no momento…

Aprendeu com a idade que: “As palavras são como bolhas de sabão, frágeis e inconsistentes e que desaparecem quando em contacto prolongado com o ar”…ou, será antes, a nossa memória que não tem capacidade para guardar todas elas, principalmente e apenas aquelas que nos sabem bem ouvir...Não será necessário dar exemplos, afinal cada um de nós tem as suas preferências…até nas palavras!

Quando começou a soletrar, mesmo mal, ainda, uma ou outra, percebeu rapidamente que algumas correspondiam a acções e que através delas se satisfaziam desejos… só muito mais tarde, compreendeu o poder que estas tinham (pouco antes de se dissiparem em contacto com o ar)…serviam para muitas coisas, até para subverter conceitos (infelizmente) …

… cresceu, sempre procurando aprender cada vez mais e mais palavras, sem nunca se sentir satisfeita…
Muitos diálogos, textos e escritos depois... sentiu-se capaz de expressar, com as palavras quase exactas (sem excessos,… mas às vezes ainda com defeitos) o que pretendo dizer ao mundo, à vida e ás pessoas por quem e onde passei e que me tocaram. Ás vezes sentia-se dotada.

Pegou em todas elas e resolveu dizer a toda a gente o que sentia, o que achava, o que queria, o que não queria, o que desejava fazer, o que não deixava que lhe fizessem, do que mais gostava, do que não queria saber, …. e disse tanto, tanto, tanto, que quase esgotou o seu vocabulário…mas disse tudo e continua a dizer…

Descobriu ainda com o passar dos anos, que as definições e as dimensões, que cada um de nós tem da mesma palavra, são diferentes e por consequência obtemos respostas diferentes ás mesmas perguntas ou simples observações… e que até a entoação que utilizamos, pode e influencia a resposta…tudo isto, apesar do código linguístico ser “o mesmo”. Na verdade, muitas vezes, continuamos sem nos entender…falo, de palavras ditas.

As palavras escritas, são diferentes… não se dissipam… mas não têm som ???, a não ser de quem as lê. Sofia gosta delas de igual modo, porque lhe criam imagens, ilustram e alimentam os seus e os nossos sonhos, os nossos devaneios, as nossas loucuras, as nossas diferentes vidas…

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Esta, será definitivamente, a minha maior herança e o meu rasto... Mesmo que não tenha dito, escrito ou lido nada…

Na vida… nada amo tanto, quanto as palavras… Sem elas tenho consciência que a comunicação seria ainda mais difícil… mas com elas, também tenho consciência de que não é nada fácil.

...mas ainda, não descobri outra forma tão expressiva e eloquente de me comunicar com os outros…
Para completar este código, quando falamos, usamos os olhos, a boca, o sorriso ou a ausência dele, as expressões faciais múltiplas, as mãos, a expressão corporal,… que, de forma sábia nos traem ou completam as palavras que proferimos.

Apesar de tudo, sinto-me muitas vezes ainda à procura da palavra certa para encadear uma conversa …  sem equívocos …
…sem este código, seria impraticável qualquer intercâmbio  entre  moi, les uns, et les autres.

 Ainda bem, que me ensinaram a ler. Obrigado, professora Emília, …


terça-feira, 16 de março de 2010

Preciso....das letras e das palavras

Assolada por uma vontade extrema de escrever, de saudades das letras e das palavras...

Cheia de “coisas” cá dentro que me fazem transbordar, de tanta vontade que sinto de dizer e de contar...
Sinto-me água, a dobrar no limite a borda de um copo em direcção descendente!

Tenho saudades de expressar sentires, desejos e afectos em frases carregadas de palavras acasaladas, misturadas... que rodopiam e se confundem como amantes numa cama ou na folha de papel...


...preciso, preciso, preciso...contar ao Mundo....preciso voltar a escrever rapidamente, estou a desesperar....preciso de tempo....de um bocadinho...fazem-me falta as palavras.

sábado, 6 de março de 2010

...Homem sem alma e sem corpo...


Em que acreditas tu Homem sem alma e sem corpo, que pareces ter.
Em que o afecto te espera todos os dias...
Em quem confias?

Para além das contrariedades que te seguem
Dos mares que cruzas, que ao mesmo tempo fazem de ti um lendário
Sonha... atalha esse coração …que se encontra enclausurado num armário

Desassossegas as almas, bates palmas, riste p'ra dentro
Sempre à espera do momento
Nu e cru… como só tu, sabes causar

Busca dentro de ti essa ventura, dá-te a oportunidade perdida
Abandona-te à única verdade da Vida
Que, apenas depois de vivida, realmente passa a sê-lo

Não te escudes, não te defenses, deixa-te atravessar
Serenamente... morosamente... ao sabor do vento
Ficando atento
Nada mais ocorrerá senão o que ambicionares
(ou será esse o receio?)
Cuidares seres tu o primeiro, sem tormento, sem flagelo e sem dúvidas...
tu! Nu e cru!...do  outro lado do Mundo!…

O sonho espera por ti, continua a confiar, deita a cabeça no seu seio
e tenta deixares-te embalar...

...vais encontrar outras gentes, outras sementes... outro ar.


quarta-feira, 3 de março de 2010

Alguém está a chegar do mar!...







- Alguém está a chegar do mar!

Anunciava um destes dias uma brisa turbulenta, à boca cheia, para quem quisesse ouvir. Conforme passava, repentina, deixava um rasto de curiosidade e intriga...

As árvores, os pássaros, as plantas e os animais esbugalhavam os olhos e os ouvidos ao som do canto das sereias, que ao mesmo tempo descansavam em cima de um rochedo ao luar...

Era noite. Estava escuro. E, o frio estava de saída para dar oportunidade a uma temperatura mais amena e mais húmida também.

...distraídos pelo som, os animais e as plantas davam a devida atenção às notícias, acabadas de deixar! Alguém está a chegar do mar, alguém está a chegar do mar...

... e, enquanto isso... o Luar aproveitava a distracção de todos, abria os braços e abraçava a Terra cobrindo-a de beijos, o que iluminava tudo o que era ser vivo à sua volta. Estava feliz e queria partilhar essa felicidade com a vida.

A Terra, apesar de triste, pelo desassossego causado por todos os homens que viviam dentro dela, ainda mantinha um sorriso, como esperança. O sorriso das crianças...

Vista de longe, do cosmos... ela, permanecia como sempre vestida de azul e verde e, era, surpreendentemente bonita.

...O mar, brilhava sempre que a luz lhe tocava...

A Terra tremia, sempre que o Luar a abraçava...

...ultimamente então, ele não queria outra coisa,.... senão abraça-la... no Haiti no Japão, no Chile, em qualquer parte do mundo, sempre que tivesse vontade e onde lhe apetecesse.

Contudo, teimosa... ela, nunca quis ouvir o que os seus amigos lhe sussurravam ao ouvido, baixinho, para não acordar as crianças. Mas, de um refrão de uma canção melódica, ouviam-se os seres vivos a cantar:
 – Teeeeerrrrraaaa, o Luar gosta de ti...


 ... a Terra pensava e vacilava...

As agruras, porque tinha passado, passados milhares e milhares de anos, de tantos amigos que tinha tido e que muitos tinha visto extinguir ... faziam-na, .... entre outras coisas... também, duvidar do Luar...

Ele era lindo, penetrante, luminoso...mas, também escorregadio, desconfiado e descrente... A desconfiança que sentia, tornava-o, cauteloso....mas também “carrasco” de si próprio e indefeso... por isso, preferia “reinar na sua praia”, na sua orla de conforto e pouco mais... Ela, por seu lado, era... (tudo o que vocês quiserem)... girava sem parar em torno do seu eixo...e, fazia rodopiar quem por ali passava.... mas, muitas vezes, igualmente indefesa...


...

Até hoje e já lá vão milhões de anos...o que os atrai um para o outro, é o mesmo de antigamente, ...


...

Assim, quando deito a cabeça na almofada, penso:

- Quando é que a Terra voltará a tremer?!!....e, concluo sempre o mesmo: - Um dia destes... quando o Luar, a voltar a abraçar...

...e, afinal quem é que chegou do Mar? Distraí-me, fiquei sem saber....


terça-feira, 2 de março de 2010

Amar e sonhar ao mesmo tempo...

Sonhava Eu, um dia amar… e viver sem vaguear
Por entre portas e janelas de um jardim…

Queria Eu,… amar-te sempre
Fazer de ti, um sonho ardente
E adormecer envolvida em jasmim…

Amava Eu a Vida toda... por inteiro
Por ela ser e não ser alegre e triste,
Sonhando sempre, por defeito, ser primeiro
Amaste em sonho… bem devagar… depois fugiste


Perdia eu, o nascer, o pôr do Sol…
Perdia eu, aquela Lua derradeira…

...E…queria ela, ser um dia apenas sua... sem magoar, só para sonhar que tudo existe!