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sábado, 23 de abril de 2011

Labirinto do Sol...


 Por vezes, julgo que me deixei lá atrás...e segui caminho...

Olho para trás várias vezes, na esperança de encontrar-me de novo. Mas a distância a que assisto sentada na praia, presa a um ponto, manda-me andar no sentido inverso ao que deixei...que não sei o que foi, nem sei definir por palavras, apenas sentir com os sentidos...A sensação não é tranquila, é de perca, de subtracção... Seria, eventualmente dramático se, quando olhasse em frente, não sentisse a esperança de vir a encontrar alguém muito melhor...num estado diferente e mais elevado na escala, escala por mim encontrada para justificar a forma de cada um de nós, em cada momento da vida...( ... designo-os por patamares, planos ou camadas).

Umas vezes, sou ainda um bocadinho da que ficou lá atrás, outras, a que continua andar no sentido contrário, determinada, e, outras ainda, sou a que permanece sentada no meio, entre a distância percorrida entre as duas, com a diferença, de que não estou na mesma linha de alinhamento, estou um passo atrás, e com a distância suficiente para no meu horizonte conseguir ver as duas, a que ficou e a que continua andar...à mesma distância.

Não sei para onde vai a da direita, mas vai tenho a certeza, que não consegue parar...Quase a perco de vista...A da esquerda, está parada num ponto à esquerda, desta linha imaginária que estabeleci  entre as elas. Não percebo qualquer movimento da parte dela, cristalizou por ali...mas, percebo que vai ficando cada vez mais pequenina, diminuta, à medida que a que está à minha direita se movimenta... e eu que estou no centro, entre a  distância entre uma e outra, me desloco obrigatoriamente, corrigindo o centro e mudando de lugar a cada passo percorrido pela da direita...

Estou de costas para mim própria, - eu, que escrevo....sentada de pernas cruzadas, na praia, "fixa" a um ponto da terra, ao centro da linha imaginária que estabeleci....Mas se me colocar de frente para mim mesma, - eu, que escrevo,  ou, sem me soltar daquele ponto,  no centro, e, me virar de frente para mim, ou ainda, ...se deslocar o objecto, onde todas as personagens se encontram... tudo se altera...

À minha esquerda agora tenho aquela que anda sem parar e à minha direita tenho a que permanece estática... só eu, continuo-o a mesma, não perdi as minhas características, permaneço ao meio, no meio das duas, no meio da linha imaginária que define a distância entre uma e outra...e, continuarei a deslocar-me e a corrigir o meio,  o centro, a cada passo percorrido pela determinação da  que se encontra à esquerda...

Confundo-me...Confundo-as...Confundo todas as personagens que vivenciam na minha imaginação este relato, com tantas voltas que dou...numa espiral devassa de movimentar personagens como se fossem bonecos, tiro e coloco no lugar que me apetece, faço-as rodopiar, sobre mim, sobre elas próprias, sobre o objecto, sobre o plano e estabeleço as linhas imaginárias que me apetece até obter um raciocínio lógico. Tenho até dificuldade em dizer onde me encontro! já não sei! ...mas não preciso. Ninguém pergunta...e, se alguém se atrever, posso sempre responder, ...lá, do lugar de uma das quatro...que sou eu...por qualquer uma...

Durmo, acordo e brinco no Labirinto do Sol, com o jogo que inventei...Brinco comigo, não com alguém...um jogo que serve para me ler de outros planos, de outros prismas...e me mostrar, a mim, como somos multifacetados...


sexta-feira, 1 de abril de 2011

You are my favorite ...


Maria lia um romance e recordava passagens anteriores, que a história e o tempo quase apagaram com o passar dos anos da sua lembrança...as memórias eram tão efémeras que "quase" não deixavam que ela recordasse sequer a cor dos olhos dele...A sua capacidade para apagar da história, momentos de uma sensação agri-doce era infalível. Ela detestava esse sabor e isso fazia por ela a determinação necessária.

Esse condimento que a atravessara em determinados momentos da vida, enraiveciam-na, tornava-se desconfiada e triste, cheia de raiva, amarga, doce, agri-doce... E, ela detestava ser assim, agri-doce. Tinha consciência do seu estado nessas alturas. Mesmo não havendo, aparentemente razões para ser abrupta com os outros, por eles não serem o problema, não conseguia deixar de o ser. Recordava-se que antes de sentir pela primeira vez este sabor, era apenas doce, divertida, alegre e sorria com a facilidade de um adolescente. Naquele tempo, terá amado o mundo e a vida, as coisas e as pessoas. Hoje, já só amava as coisas...as diferentes coisas, a natureza, a natureza morta e os animais...O mundo, a vida e as pessoas tinham-na devastado, sem lhe restar sequer a possibilidade de tudo voltar ao lugar onde um dia estiveram, durante anos...

Ás vezes, sentia vontade de saltar a janela e voar até à outra janela... Poisar no parapeito, olhar nos olhos e conversar...ou, simplesmente, encostar-se no ombro e enternecer em paz ao lado de uma outra vida, ao final de um dia atrás do outro...

Procurara saber para que serviria aquele sabor agri-doce que sentia ao virar de cada palavra proferida por alguém, ou por ela própria? Tantas.Tantas, tinham sido  as palavras vomitadas que não surtiram de modo nenhum o efeito que pretendeu....tantas.  Maria, não passava da menina preferida por tanta gente. Esse sentir não lhe apaziguava a alma nem o coração. Não queria de modo nenhum ser a preferida de ninguém, mas a amada apenas...

Não era mais a mesma... ser a preferida ou ser a amada, eram  expressões diferentes que desembocavam em sentires distintos...E, Maria hoje, procurava ainda a profundidade dos sentimentos dentro dela e dentro dos outros... A busca incessante não a deixava serenar...

Numa esperança renovada, que negava aceitar tudo por metade, Maria metia pés ao caminho, e num voo planado, bem rasteiro, dava mais uma oportunidade à vida de lhe mostrar que os amores não existiam só nos romances que lia, nem nos sonhos, mas também na vida real.