Gosto deste vento frio que me atravessa a pele e teima em fazer de mim o seu refúgio. Gosto da chuva forte que cai e me convida a dançar nas suas águas. A chuva é doce o vento é destemperado...e, eu...Eu, não passo de água e sal, ...
Envolta em areia molhada onde a vida se aninha e me viola saborosamente por todas as reentrâncias, deixo-me levar ao som da sua música melada. Não há significado nenhum para isto nem sentido, nem agravo, apenas prazer...
As nuvens ficam caladas, a olhar-me... e eu flutuo deixando-me ir ao som do mar que sai do fundo dos búzios e das estrelas magoadas e brilhantes. Ficaram ofendidas comigo quando um dia não as deixei entrar em cena. A cena passava-se de dia, não havia razão para as deixar entrar...Disse-lhes que fossem tomar um café enquanto eu estava a sonhar. Zangadas, saíram batendo com a porta, não vacilei...já as conheço, mais tarde voltam.
Gosto daquele vento frio que vem do Norte que me abraça e me faz voar, que me empurra para os sonhos acompanhado de uma chuva forte que cai dentro e fora de mim, ao contrário de palavras transparentes que de tão leves não atravessam ninguém.
Ele continua assobiar a levantar no ar folhas de Outono e paixões sem tempo, que deslizam de forma envergonhada por entre os homens até apanhar um coração indefeso. E, há por aí tantos..., todos os dias me cruzo com eles. Consigo distíngui-los no meio dos outros. Têm uma cor e uma forma diferentes, são magenta como as romãs mais maduras e mais arredondadamente cheios também, transbordam no que têm para ofertar sem pedir nada em troca, por isso vivem suspensos e leves... destarte seguem o seu caminho sem garantias de sucesso...
- Não importa, só a viagem... já valeu muito a pena. - Pensam...
Umas vezes, são interceptados pelo vento Norte de que vos falo e aí caem redondos num extase que apenas haviam ouvido contar, nunca tinham experimentado. Os repetentes vacilam, mas as lembranças carregadas de emoção da última vez fazem esquecer as contrariedades que aparecem depois fazem-nos seguir o mesmo caminho. Uns e outros deixam de ter vontade própria para ter vontades próprias de um enlace sem limites.
O vento Norte é capaz de tudo...
e, a chuva, que de vez em quando o acompanha imprime nos homens os cheiros a terra molhada...