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terça-feira, 27 de setembro de 2011

...Um livro no mundo dos homens...

 

Ninguém sabe como ele se sente, nem ele. Divide-se, entre o que está muito perto de ficar para trás e o que tem à sua frente. Não é urgente, mas... Há algo que o empurra e algo que não o larga e que não o deixa avançar, não sabe o que é, não sabe interpretar. Procura no fundo de si, o mais valioso que tem, mas não consegue encontrar, está vazio por dentro. Apenas, por fora, se sente cheio, cheio de coisas que o esperam e que estão cheias de vontade de ir ao seu encontro. Encontram-se pontualmente com ele, e ele gosta.

Refere-se à liberdade, ao viver em plenitude, de encher as mãos de tudo, de sorrir sem satisfação e com ela, de trocar falácias, de esgrimir opiniões, de deitar palavras fora, de escolher as cores que quer, de comer chocolate deitado de costas no chão, de dar presentes com amor, de ir sem saber quando voltar, de não se preocupar, de chapinhar nas poças de chuva, de andar descalço pela rua, de ver as estrelas à noite e acenar-lhes um adeus, de sentir o vento no rosto em dias que não se vê, de voar sem sobressaltos, de deitar a cabeça no ombro de um qualquer vadio que se sente no mesmo banco de jardim,  de assobiar, de contrastar, de imaginar com um sorriso coisas boas, de um beijo de perdão, de dar a mão, de fugir à frente da vida e não andar atrás dela, de subir às árvores, de mastigar nuvens como se fosse algodão doce,  de virar uma esquina e ser surpreendido por alguém, de viajar para outros universos onde o infinito é o fim, de prevaricar,  de ter prazer no que faz, de no cimo da montanha gritar e ouvir o eco da sua voz propagado, de vibrar com o que lhe acontece e com o que acontece aos outros, de amar, de sonhar  e, de viver e, de Ler...Este, era o seu maior sonho, Ler. 

Eu, de vez em quando, por aqui,... nunca tinha ouvido um discurso tão honesto. Pasmei, porque que vinha de um livro, que não queria mais sê-lo. Renegava a sua origem,  pertencer ao mundo dos livros,...tudo isto, desde que percebeu a riqueza e a diversidade do mundo dos homens.



sábado, 24 de setembro de 2011

O Mundo novo...

Maria do Mar viajava por águas, ora doces ora salgadas, mas sempre indiferente à densidade de massa liquida que a embalava.

Adora passear  à superfície ou nas profundezas dos oceanos, dos mares, dos rios e dos lagos,... desconhecendo os limites,,,, é-lhe indiferente. Para ela tudo é água e isso basta-lhe... Muitas vezes é surpreendida pelas correntes, tropeça em agueiros, e pára a ver os  peixes prateados ou dourados que vivem mergulhados e que desfazem passos de dança pelo meio dos arenques e corais, de forma ondulante. Tem uma estrela no céu que a protege e por quem gosta de ser protegida...

Dizem que procura no mar, o que até agora não encontrou no Céu, nem na Terra. Nós não sabemos exactamente o quê, ela nunca contou a ninguém. Maria é suave e, de palavras mansas, por isso  por onde passa, os anjos dizem, na pouca unanimidade das opiniões, que deixa rasto.....................................................................................................................................................................

Neste mesmo mundo onde tudo acontece, tanto à tona como lá no fundo dos homens, vivem outros intérpretes que habitam histórias.

João Sem Terra, que vive de cabeça na Lua. Viaja  por entre nuvens,  pedaços de sol e de chuva, aqui e ali, onde a vida também se faz. Tem duas estrelas perto de si a quem protege e outras vezes, a quem pede protecção, nunca lhes faltam, nunca lhes falta. 

Segura com todos os dedos das duas mãos, mapas, paisagens, recantos, cores, cheiros e bocados de mundo que recolhe e leva consigo dentro da sacola, para depois multiplicar e distribuir, com alma a toda a gente por onde passa.  As lembranças que trás consigo, servem muitas vezes para o aquecer nos momentos mais frios da sua história.

Nunca, ninguém sabe, onde vai parar na próxima viagem, nem ele mesmo,... mas não se importa, gosta de ter a alma solta e errante, alma sua onde se aninha de vez em quando para reflectir e questionar as coisas da terra e do mar. 

 João é bravo e de palavras fortes,  de quem dizem os anjos, na pouca unanimidade das opiniões, que também deixa rasto....................................................................................................................................
...
Não se conhecem.

Nem Maria, nem João. Nunca se encontraram. Apenas os seus rastos se cruzam, por vezes, para lá deste e de outros universos.

Mas eu, 
que vigio as almas, que vivo no meio de tudo e de todas as coisas, que tenho asas e que me alimento de livros...  que vivo entre uns e outros, sem que me vejam,  atrever-me-ia  a afirmar que um dia se vão tocar... e vocês, que ainda não conseguem alcançar o que vejo e o que sinto, vão perceber quando Maria do Mar se tornar, Maria Sem Terra e João Sem Terra,  se tornar João do Mar.

O mundo está em suspenso neste interlúdio, e nesse dia a Terra irá parar de rodar.
...

As aves não cantam mais, as flores estão à espera de autorização divina para desabrochar, o galo permanece de boca a aberta à espera que o som lhe saia garganta fora, as guerras pararam e deram tréguas aos homens, o vento não sopra, o relógio ganha tempo, as roupas criaram bolor dentro dos roupeiros, a noite não se atreverá a cair sem que receba o sinal, as portas fecharam-se todas ao mesmo tempo na esperança de se abrirem de par em par no momento mais esperado, ...mas ninguém nota.

A vida de todas as gentes, continua a fazer-se de forma rotineira, sem que ninguém se aperceba que repete momentos iguais.

Um dia, pelo culminar dos dois rastos, o mundo vai encher-se de estrelas brilhantes semeadas por toda a parte, a Lua virá à rua porque faz tempo que se fechou dentro do Céu, os sorrisos vão colar-se no rosto de todos os homens e mulheres que hoje vagueiam de um lado para o outro sem saber o seu destino, e em fila, cada um, encontrará o caminho certo a seguir, onde a esperança espera por eles. A solidão e a tristeza serão banidas, para sempre, da alma das gentes. A Terra encher-se-á de luz, de uma luz branca e brilhante que iluminará corpos, por dentro e por fora. A euforia das almas vão almejar uma festa lá em cima e os corpos que lhes pertencem e que por ora vagueiam lá em baixo, vão fundir-se nelas. Será um mundo diferente, um nascimento de um Mundo Novo, quando toda a gente acordar.

Maria do Mar e João Sem Terra serão amigos e vão dividir segredos e sonhos...

domingo, 18 de setembro de 2011

...no mundo de grades e portas fechadas...


Deito-me no meio dos escombros. Há uma nuvem de pó por cima de mim, que me altera o cheiro, o paladar e o significado de uma vida que passou. Uma vida curta.

Aninho-me, algo me assusta, talvez o receio do que vem a seguir. Vejo a juventude que ficou lá atrás e os sonhos que  ficaram com ela, ...estavam a beber café, não deram por me vir embora e continuar... 

Enquanto isto, fugiu-lhe a vida...

Foi por entre os dedos que se escapou, empurrada pelo mundo e pela pressa dos dias,... pela história ou pelas histórias de sacrifícios, apenas feitos por ela.

Não quero significar mais do que o necessário, não quero imposições, quero apenas odores de Primavera por perto. Quero a vida que gerei, é minha, é o meu único e sólido laço com a terra.

Mas a vida não a ouve e foge-lhe...
Foge-me a vida, esta vida que me obriga aceitar o que não gosto e o que não tenho vontade, foge-me até a vontade.

Fugiu-lhe a terra debaixo dos pés...hoje, mistura-se com os escombros...

É outra mulher, que não se conhece e que não  reconhecemos. Daquele forte génio resta agora e apenas confusão e... palavras mansas. Foi levada para longe do mundo, encarcerada pelas grades numa casa de portas fechadas, à chave. Esquecida por Deus e no futuro pelos homens, deixou a sua marca profunda quando ainda conseguia gritar e espernear. Agora não, é a primeira a negar a realidade, não acredita em mais nada, RECUSA-SE.

Eu, de fora, assisto ao espectáculo cruel a que me obrigam, ao desmoronar  de mais uma mulher amiga, que perdeu as forças e se entregou de qualquer maneira à loucura de todos os dias com grades e de portas empenadas...

Queria resgatá-la, mas ela não vem,... não a posso obrigar. 
Foi por todas as obrigações que sentiu, que perdeu o amor próprio, quando apenas queria, o próprio AMOR. Não sabe mais o que isso é, não sente mais o quanto nos faz falta, não lhe sente mais a falta...melhor assim...


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Imagens de momentos, a cores...


Hoje, vesti-me de preto. 
Nem sei porquê!? Nem ele sabe. Apeteceu-lhe colar-se a mim, o negro. 

Peguei num livro e comecei a ler. Era manhã. Corria uma brisa fresca. Sentei-me no muro à espera da minha boleia de verão. Cartas de Guerra, chama-se....Acrescento, cartas de guerra com muito amor e melancolia à mistura. Estou feliz, mas ontem estava mais. Pelo meio da felicidade que sinto hoje, são as dúvidas que me confundem. Talvez por isso, me tenha vestido de preto ou talvez não…Aconteceu à pressa.

Ontem, tudo era claro, tudo me parecia tão claro, porque estava acontecer. Era o momento.

Hoje, tenho comigo uma mistura turva, que não me deixa estar completamente feliz, como estive ontem.

Penso. As histórias começam e acabam todos os dias, mas apenas e só, porque, as interrompemos. Somos forçados. Somos forçados por tudo, até pelos nossos sentidos...Por tudo.
Temos sono. Não resistimos ou resistimos em demasia.  Podiam no entanto, perguntar-nos, se, é isso,  que queremos! 
Não era. Não queria…

Acrescentei um lenço ao pescoço com um padrão airoso e saí para a rua…tudo, se tornou mais leve e, por isso, menos denso. Havia, pequenos apontamentos escarlate. Nas mãos, no lenço e em mim.