Translate

domingo, 26 de setembro de 2010

Lisboa abandonada ao silêncio...




Lisboa estava agora abandonada ao Silêncio... 

O Agosto, levara consigo todos os transeuntes...os homens, as mulheres e as crianças, as companhias com quem partilhara sonhos comuns daquele ano...os amigos, os amantes, os apaixonados, os poetas, os pintores e os músicos, os escritores e os seus leitores, entre tantos...cansados que se sentiam de um ano intenso de rotinas e cheiros agri-doces, sentidos por Lisboa. Cheiros estes, agora mais intensos do que antes, pela audácia das gentes que a habitavam e viviam nela durante a maior parte do seu tempo, onde não se podem esconder, nem esconder nada...

Tinham ido todos embora...

A saída sazonal, marcava o momento e Lisboa sentia-lhes a falta. A falta de todos aqueles que lhe percorriam o corpo e a alma, calcorreando os becos, as vielas, as ruas, as avenidas, as colinas de forma silenciosa ou de forma estridente e às vezes até desconcertante...que faziam Lisboa corar, havendo uns que lhe deixavam mais saudades que outros.

Olhava em volta e sentia-se sozinha...Na solidão daqueles dias, restava-lhe à noite a Lua por companhia, o Tejo e o silêncio. Uma vez por outra, juntava-se a nós um sem abrigo que não tinha tido nenhum convite para ir a banhos de mar e sol, numa qualquer estância de praia do nosso país ou  no estrangeiro. Passávamos horas, deliciados a ler.

Outras vezes, aproveitávamos para colocar a conversa em dia e admirar o Silêncio. O Silêncio era de todos o mais recatado, o mais calado, nunca proferia palavra, limitava-se a observar.....e, a Lisboa, bastava sentir-lhe o olhar e mergulhava no seu enternecedor corpo envolvente e deixava-se cair por entre os braços e dedos do Tejo, em silêncio... Que bons, que eram estes momentos de paz...

Lisboa descansava...e a Lua, o Tejo e o sem abrigo em paz, ao som do Silêncio, aproveitavam para fazer o mesmo.

Fomos acordados pelo barulho das gentes da minha terra de volta às rotinas. Desfeitas as malas e barrigas cheias de sonhos realizados pela metade,... atropelavam-se com saudades de casa... e Lisboa alegrava-se ao vê-los chegar...

3 comentários:

  1. Um texto de final de Verão. Uns deixam a cidade e outros regressam à cidade.
    No verão a nossa cidade é triste e vazia. As escolas estão fechadas e muitos aproveitam os dias para irem à praia.
    Lisboa é muito diferente e pelo que disse tem mais movimento de pessoas.

    ResponderEliminar
  2. Um texto que me diz muito.Acabei de chegar de férias,deixei por aí o meu silêncio.

    Abraço.

    ResponderEliminar
  3. Ao teu inimitável estilo de nos deliciar com texto de meditar, pela candura da escrita, suave, intensa em palavras tuas…sentindo, que nada falta nesta Lisboa adormecida,pelo silêncio…apenas que alguém acorde, fingindo-se adormecido, e que vida lhe dê…!!!

    Bj*

    ResponderEliminar

alfa diz: