Maria lia um romance e recordava passagens anteriores, que a história e o tempo quase apagaram com o passar dos anos da sua lembrança...as memórias eram tão efémeras que "quase" não deixavam que ela recordasse sequer a cor dos olhos dele...A sua capacidade para apagar da história, momentos de uma sensação agri-doce era infalível. Ela detestava esse sabor e isso fazia por ela a determinação necessária.
Esse condimento que a atravessara em determinados momentos da vida, enraiveciam-na, tornava-se desconfiada e triste, cheia de raiva, amarga, doce, agri-doce... E, ela detestava ser assim, agri-doce. Tinha consciência do seu estado nessas alturas. Mesmo não havendo, aparentemente razões para ser abrupta com os outros, por eles não serem o problema, não conseguia deixar de o ser. Recordava-se que antes de sentir pela primeira vez este sabor, era apenas doce, divertida, alegre e sorria com a facilidade de um adolescente. Naquele tempo, terá amado o mundo e a vida, as coisas e as pessoas. Hoje, já só amava as coisas...as diferentes coisas, a natureza, a natureza morta e os animais...O mundo, a vida e as pessoas tinham-na devastado, sem lhe restar sequer a possibilidade de tudo voltar ao lugar onde um dia estiveram, durante anos...
Ás vezes, sentia vontade de saltar a janela e voar até à outra janela... Poisar no parapeito, olhar nos olhos e conversar...ou, simplesmente, encostar-se no ombro e enternecer em paz ao lado de uma outra vida, ao final de um dia atrás do outro...
Procurara saber para que serviria aquele sabor agri-doce que sentia ao virar de cada palavra proferida por alguém, ou por ela própria? Tantas.Tantas, tinham sido as palavras vomitadas que não surtiram de modo nenhum o efeito que pretendeu....tantas. Maria, não passava da menina preferida por tanta gente. Esse sentir não lhe apaziguava a alma nem o coração. Não queria de modo nenhum ser a preferida de ninguém, mas a amada apenas...
Não era mais a mesma... ser a preferida ou ser a amada, eram expressões diferentes que desembocavam em sentires distintos...E, Maria hoje, procurava ainda a profundidade dos sentimentos dentro dela e dentro dos outros... A busca incessante não a deixava serenar...
Numa esperança renovada, que negava aceitar tudo por metade, Maria metia pés ao caminho, e num voo planado, bem rasteiro, dava mais uma oportunidade à vida de lhe mostrar que os amores não existiam só nos romances que lia, nem nos sonhos, mas também na vida real.
A vida por vezes é-nos madrasta...mas nem por isso deixa de ser bela...e merece realmente uma nova oportunidade...!!!
ResponderEliminarBeijo