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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Underground - O silêncio dos inocentes...


Debaixo do chão, para além dos ratos, viviam indignados e de cabeça para baixo homens e mulheres de respeito, capazes de feitos sem tamanho para o bem e para o mal...pena era, que as vitórias de outros tempos estavam tão longe do pensamento e da razão que já não se arrumavam nas memórias, nem nas cabeças de ninguém. Pertenciam a um passado longínquo, cheios de pó, em prateleiras esquecidas no tempo. 

Encurralados em lugares onde a luz não existia ou era fraca, onde quase não se conseguia sequer respirar, perdiam a cor, o brilho, a vivacidade, a força, a expressão, a vontade de se expressar, a voz, a garganta..., tudo isto, porque foram deixando de lhe dar o uso próprio, ou qualquer outro. E, eu, assistia agora à sua morte aos poucos, um pouco por todo o lado.

Perderam a esperança, entregavam-se à agonia dos dias infindos, em que as palavras desapareceram, umas atrás das outras, reinando um silêncio ensurdecedor de dor, sem futuro e sem volta. A palavra sonho fugira de todos os dicionários sem deixar rasto, dando lugar à tristeza, à desilusão e ao desencanto.

Antes de perderem as formas físicas de se fazerem ouvir, os homens e mulheres com honra, terão perdido a  memória e a razão. Ninguém tem nada para dizer ou para fazer, se a memória se apagar. Talvez, por isso, vivam hoje, de fardo às costas, carregando todas as culpas, as suas e as demais, até as dos homens que vivem a cima do nível do mar.


Dois dos indignados, ainda pouco convencidos de que a vida findava na distância que vai dos nossos olhos ao chão, aventuraram-se e levantando a cabeça, perceberam que havia algo mais..., desconhecido..., que  havia um outro mundo para além deste, onde a vida ganhava um outro significado, onde o Sol reinava, a água corria, o vento soprava, o fogo iluminava corpos e almas e onde as pessoas sorriam  ainda com vontade de o fazer...

Ali, onde viviam encerrados na escuridão e sufocados pelos modelos, pelas tentativas, pelas desilusões constantes, só existiam duas cores, o cinzento desiludido e o preto carrasco.  Mas, o espírito aventureiro, bravo e curioso corria-lhe nas veias, nas suas e nas dos seus antepassados e aquecia-os de tal forma, que lhes empurrava o pescoço e a cabeça na direcção do céu.

Naquele dia, repararam numa nesga de luz, que atravessava  de forma nuclear aquele gueto casario  sem vida, ou sem esperança, como uma vara atravessa um rio ou um mar até adentro e faz navegar um barqueiro de outra terra, não para o agarrar ao fundo, mas para o fazer deslizar...Morria a morte e espreitava a vida. Aquela que um dia os deixara à deriva, com os homens de outro nível no comando. Aquela, que quase os abandonara....aos inocentes, underground.

Enquanto isto, eu, desfaço-me em folhas de papel e de rascunho que levo para onde vou...

2 comentários:

  1. Ana, palavras dignas da indignação que te assola a alma, que por hora não estão dedutíveis em sede de IRS…mas na forma como te expressas na beleza das palavras, estás aqui estás a levar com a Troyka em imposto acrescentado ao teu blogue.

    Beijos

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  2. Tudo nos vão tirando. Desmoralizam, roubam a paz de espírito.

    Ando a sentir-me uma sem-abrigo.

    Beijo

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alfa diz: