Ele partiu a semana passada. Estava cansado e tinha tomado a decisão de se ir embora, sem o nosso consentimento... o dos amigos. Teimosamente e com todo o carinho do mundo, procuramos o tempo todo amparar as suas já visíveis dificuldades e contrariar aquele destino injusto. Sempre que não queria comer, alguém trazia um "tupperwer" com fruta apetitosa, ora uvas, ora papaia, frutos secos, bolachas, bolinhos caseiros... aquele "armário público" tinha sido transformado numa pequena mercearia com as prateleiras carregadas de amor e compaixão, para que nada lhe faltasse quando tivesse uma vontade súbita de alguma coisa.
Sempre que subia as escadas, alguém subia com ele dois degraus de cada vez e fazia uma pausa para descansar, como se tudo fosse normal. Sempre que a "ansiedade" não o largava ao nosso cuidado, nós não "O" largavamos ao cuidado dela.
Na sua presença, era ele quem marcava o nosso ritmo e foi assim até ao fim. Não tinha pressa de se ir embora, apesar de cansado e visivelmente abatido, permaneceu de pé até ao fim.
Deixou-nos, dormitando com a cabeça no ombro do seu pai... (deve ter sido fantástico). Que mais cada um de nós, deseja senão um "terminar" assim, entre o amor daqueles que nos querem bem, que nos amam de forma incondicional e que nos pegam ao colo, de cada vez que nos sentimos de novo crianças desamparadas.
Estejas onde estiveres, lembra-te como foi divertido viver, entre amigos. Em meu nome e em nome de todos eles, lembra-te do Natal anterior, de chupa-chupa na boca, barrete vermelho na cabeça chamando um a um, ríamos repetindo volta e meia o mesmo número, havendo sempre um ou outro distraído que respondia: Esse já chamaram...
Um beijo grande, de saudade.
Pela forma como narras os acontecimentos, até parece que também o conheci. Ao que parece trataram de lhe dar uma vida com dignidade e, um final feliz, se é que uma partida… tem algo de felicidade.
ResponderEliminarTexto carregado de emotividade, assim ao estilo de quem te conhece…emotiva e bondosa!
Bj*