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domingo, 22 de novembro de 2009

Brincar com as palavras...cifra de transposição ou anagrama


...e se parássemos um pouco...estou cansado! - Respondia o menino, com a cabeça deitada no antebraço pousado na secretária, sem forças para erguer aquela invenção de outros tempos, a esferográfica. Depois de um dia de escola repleto de letras, números, conceitos, regras e muita brincadeira, a meio de mais uma semana, de um ano lectivo qualquer e perdido entre livros, cadernos e lápis, o João esforçava-se para não desiludir a mãe, que ao seu lado paciente permanecia.

- Por favor, João estuda. Suplicava a mãe, sonhando com um futuro melhor para o seu único filho e por isso a sua única esperança.

- Escreve um título para uma composição, em que utilizes apenas 20 letras, nem mais nem menos. Usa apenas: três E's; quatro S’s; dois P’s; dois A’s; dois M’s; três O’s; dois U’s; um C e um R. É o último T.P.C. que te passo hoje, amanhã continuas... depois, podes brincar com as letras como quiseres.

Ainda mal tinha agarrado na caneta, já as palavras se atropelavam umas às outras e queriam saltar para fora daquele pequeno cérebro, sem que este conseguisse proceder ao seu registo.

Cada uma gritava mais alto que a outra, para se fazer ouvir.

- Eu sou a primeira! Dizia com convicção uma delas, por ser a mais antiga.
- Não, a primeira palavra da primeira frase sou eu, porque sou a mais bonita de todas.
- Ora, ora, replicava outra. - Era o que faltava, eu cheguei primeiro.
E outra, - Pois eu sou a 2ª palavra da 3ª frase, está bem? A confusão continuava...

Ao fundo o João ouvia.
- Não, não e não, eu quero ser a 5ª palavra da 14ª frase, já disse! - Eu tenho mais perfil para ser a 8ª da 10ª frase. - Eu quero ser a última palavra da última frase, para que  todos se lembrem de mim...

…e assim ensurdessivamente???!!!, ou ensurdecivamente, ensurdecessivamente ???!!! Esta, era uma palavra tão nova, tão fresca e acabada de nascer que nem ela própria, ainda sabia como se iria escrever. Os gritos das palavras estonteavam os ouvidos ao João.

Teimosamente, empurravam-se umas às outras sem conseguir formar em fila indiana, para dar início ao exercício, ao desafio invulgar. O cérebro do João, não conseguia sequer a concentração necessária, para enviar uma simples mensagem à sua própria mão. Mão essa, que por sua vez havia de fazer deslizar o bico da caneta sobre o papel.

Interrompidas pelo menino em desespero foram as palavras, que perplexas e assustadas ouviram em tom determinante e decidido!
- Por favor, parem de fazer barulho! Comportem-se! Preciso pensar! Eu, é que vou decidir a ordem porque vão ficar alinhadas, aprumadas na folha. Ouviram?

Abrandando o tom, acrescentou:

- …primeiro, preciso saber, quantas palavras consigo fabricar com aquelas vinte letras; escolher o tema do texto e só depois, dar-vos um sentido, organizar-vos em frases/orações com sujeito, predicado, complemento directo ou indirecto… dar sentido às orações, simples ou complexas; como pretendo que sejam ligadas entre si, por forma da conjunção ou da subordinação; optar por conjunções e locuções conjuncionais coordenativas ou subordinativas, copulativas, adversativas…, condicionais, comparativas, temporais, concessivas ou finais… Mas, para hoje, a minha mãe disse que só teria que criar um título, o resto da composição só irá ser feita amanhã, não há razão para se atropelarem, parecem crianças no recreio.

Fez-se silêncio… a maioria das palavras e das letras perceberam finalmente, que não precisavam correr aos empurrões, talvez só amanhã, caso o João voltasse a estudar.

O silêncio, agora trespassado apenas pela música de fundo proveniente do rádio que tinha no quarto, trazia a quietude perfeita. Meteu mãos à obra, adorava edificar desta forma.

Começou a escrever e a ordenar alfabeticamente todas as palavras que surgiam no espírito, tendo sempre como regra as vinte letras, naquela quantidade determinada, para erigir o título que a mãe lhe pedira, como último esforço para o dia de hoje.

…ama/amara/Amo/amor/asco/cessou/com/comer/compor/comum/copa/couro/era/Era/espasmo/espera/
esperamos/esse/espesso/maus/meus/mouros/museu/opus/ouro/ousar/para/passamos/peou/pouco/peso/
pesar/ramos/rapar/raspo/remos/ria/riamos/rumar/rumo/sapo/sarar/se/separar/ser/seremos/somos/sopro/
soro/sua/supra/uma/usar/…

Depois de inúmeras tentativas e muitas possibilidades sem sentido, chegou à conclusão que tinha descoberto uma, sem querer saber se haveriam outras.

Aproveitou para brincar, agora com a mãe, dizendo que ia apresentar-lhe o título da sua composição em cifra de transposição ou Anagrama.

- O que é isso João? - Deixa-te de brincadeiras, vá lá filho, ainda tens que tomar banho, jantar e dormir, para te levantares cedo de novo e não chegares tarde ao colégio.

-Mãe, vou dar-te uma ou duas pistas, para te ajudar a descobrir. Por exemplo: Elegant mana gentelman, tal como Elvis é um anagrama de lives. Foi a professora de inglês que me ensinou. Funciona do seguinte modo…, as letras de uma mensagem são retiradas da sua ordem original e realinhadas num outro padrão. é um anagrama de

- João, por favor, não tenho tempo para as tuas brincadeiras, amor. Preciso de ir fazer o jantar entre outras rotinas da casa, senão não consigo com que te deites cedo para descansar o suficiente. Mostra lá o título que escolheste e deixa-me contar as letras.

- É este, mãe - ...e, sem poucos amar, peou-se…

A tarefa tinha-se revelado difícil, porque o João tinha apostado em cumprir as regras que a mãe lhe tinha imposto e ainda tentou aplicar a cifra de transposição, apesar de cansado de facto. Foi quando disse …e, se parássemos um pouco…que se lembrou dos jogos que se podem fazer com as palavras e com o mesmo número de letras, na quantidade original, procurar encontrando uma outra frase que faça sentido.

Era um exercício difícil, mas tinha lhe dado um imenso prazer. Tinha feito apenas uma pequena batota, que nunca revelou a ninguém e que arriscava, que o professor da disciplina de Português quando fizesse a correcção do T.P.C., talvez não desse por isso, só com a preocupação de ter que ler em pouco tempo 26 composições, que eram o número total de alunos que compunham a turma do 7ºB, a sua turma. Não utilizou o assento grave (´).

Para o dia seguinte, resolveu deixar o corpo do texto. Contudo, já tinha decidido mesmo antes de arrumar a mochila, que iria utilizar as metáforas de quem tanto gostava, as hipérboles, as personificações e os eufemismos, amigos com que gostava de brincar nos dias de frio e chuva que o privavam de jogar à bola na rua.

Um dia queria ser um grande escritor, mas não tinha pressa, sabia que, tinha ainda muito para aprender.


sábado, 7 de novembro de 2009

O primeiro dia do último inverno...

Fazia frio quando ela saiu de manhã. O vento alvoraçava os fios de cabelo ralo e as madeixas brancas acariciavam com ternura a face e os ombros, cansados pelos anos, pelas responsabilidades que carregou na sua passagem por "tanta gente". Bateu a porta atrás de si e saiu.

Sem perder tempo apertou o sobretudo verde até ao último botão e enroscou o cachecol das riscas ao pescoço, com duas voltas para que não fugisse. Uma ponta, acabou aninhada debaixo do braço e a outra baloiçava ora para um lado, ora para o outro, sem saber onde queria ficar, virada para trás.

As faces, foram ficando cada vez mais rosadas à medida que o vento batia contra ela, os lábios finos começavam a ficar secos e cortados pelo frio. Procurou o bâton do cieiro no bolso direito...e enquanto a mão direita tinha uma tarefa e um objectivo a cumprir, a sua mão fria, a esquerda, procurava a alça da mala para se apoiar e não ficar à solta, perdida e ao "Deus dará". Como se de uma dura promessa se tratasse, teimava transportar ao ombro a mala que tinha tudo, tudo o que entendia precisar mesmo que não precisasse. A agenda do ano, a carteira, os óculos, as pinturas, a sebenta e a caneta com que gosta de escrever. De entre todos os haveres, o mais pesado era a sebenta. Cada página, carregava histórias contadas com emoção, frases soltas, palavras com e sem sentido e uma enorme quantidade de letras e tinta impressa onde expressou, o que de vez em quando lhe ia na alma.

Quando finalmente encontrou o bâton, sentiu-se feliz. Ia agora poder aliviar o ardor que sentia nos lábios, enquanto percorria o quarteirão a passos largos. O vento continuava forte e contra ela. Lembrava com saudade, todas as sensações dos anos anteriores, sempre no primeiro dia de Inverno. Muitas vezes saiu sozinha para lhe dar as boas vindas, outras acompanhada, mas nunca deixou de o fazer.

Foi o primeiro dia daquele último inverno, que o sobretudo verde e o cachecol de riscas viram a luminosidade daquela cidade, Paris. E, foi também, a última vez que A viram, porque nunca mais saíram do armário.

Ela, viu pela última vez o seu sobretudo verde e o cachecol de riscas, amigos verdadeiros com quem partilhou sensações inesquecíveis de frio e de verdadeira magia.


Ao amigo...

Ele partiu a semana passada. Estava cansado e tinha tomado a decisão de se ir embora, sem o nosso consentimento... o dos amigos. Teimosamente e com todo o carinho do mundo, procuramos o tempo todo amparar as suas já visíveis dificuldades e contrariar aquele destino injusto. Sempre que não queria comer, alguém trazia um "tupperwer" com fruta apetitosa, ora uvas, ora papaia, frutos secos, bolachas, bolinhos caseiros... aquele "armário público" tinha sido transformado numa pequena mercearia com as prateleiras carregadas de amor e compaixão, para que nada lhe faltasse quando tivesse uma vontade súbita de alguma coisa.

Sempre que subia as escadas, alguém subia com ele dois degraus de cada vez e fazia uma pausa para descansar, como se tudo fosse normal. Sempre que a "ansiedade" não o largava ao nosso cuidado, nós não "O" largavamos ao cuidado dela.

Na sua presença, era ele quem marcava o nosso ritmo e foi assim até ao fim. Não tinha pressa de se ir embora, apesar de cansado e visivelmente abatido, permaneceu de pé até ao fim.
Deixou-nos, dormitando com a cabeça no ombro do seu pai... (deve ter sido fantástico). Que mais cada um de nós, deseja senão um "terminar" assim, entre o amor daqueles que nos querem bem, que nos amam de forma incondicional e que nos pegam ao colo, de cada vez que nos sentimos de novo crianças desamparadas.

Estejas onde estiveres, lembra-te como foi divertido viver, entre amigos. Em meu nome e em nome de todos eles, lembra-te do Natal anterior, de chupa-chupa na boca, barrete vermelho na cabeça chamando um a um, ríamos repetindo volta e meia o mesmo número, havendo sempre um ou outro distraído que respondia: Esse já chamaram...

Um beijo grande, de saudade.


A vida para além da morte....

...prefiro acreditar de existe...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

DNA

Genéticamente, o nosso DNA muda com as frequências produzidas pelos nossos sentimentos.Por sua vez, as frequências mais altas que conseguimos são as do Amor e que produzem impacto e alterações no ambiente que nos rodeia...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Confissões de uma liberal!

Nasceu um novo blogue de "gelo"que irá derreter à mesma velocidade que as calotes polares, através das emoções que todos os dias sente...