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sábado, 8 de janeiro de 2011

O tempo das maçãs...



Era uma vez, uma maçã dentada, que brotara num país pequeno. Abocanhada  ao longo dos nossos antepassados, vivia tristonha por sentir que lhe faltava um pedaço. Ela, não entendia por que o destino lhe reservara uma existência diferente, mais brilhante, mais magnética…ninguém entendia, mas testemunhavam  a ocorrência...

Por adágio do pecado, o Cristianismo usou-a para ser mordida por Adão quando quis enternecer e seduzir Eva. Ficou no cacho dos homens, depois de deslizada a seiva e engolida a carne. Sobre o fruto apetecível que tem origem no pecado e, que simultaneamente, dá a morte e  vida, multiplicaram-se histórias, contos,  mitos e lendas.

Eris, a Deusa da discórdia, depois de ofendida por não ter sido convidada para o casamento de Pelais e Tetis, por vingança, lançou, em plena cerimónia uma maçã de ouro com a inscrição: "À mais bela – Kallisti". As Deusas Hera, Atenea e Afrodite disputaram o título e tentaram Pares com a mulher mais bela presente, Helena de Esparta, o que desencadeou indirectamente o início da Guerra de Troía; As maçãs de ouro aparecem também no Jardim de Hespérides, como fruto da árvore da vida; Herácles, como castigo dos seus doze trabalhos, fora requisitado para viajar até ao jardim de Hespérides e recolher todas as maçãs de ouro da árvore da vida; Hipómenes, ganhou a mão de Atalanta, depois de a vencer com três maçãs de ouro (os dons de Afrodita, a Deusa do amor); Guilherme Tell, teve de atravessar com uma seta uma maçã colocada em cima da cabeça de seu filho; Na lenda dos colonizadores americanos a história de “Joãozinho semente de Maçã”; “A garota com a maçã”; “A branca de neve e os sete anões”, em que Blancaneus, cai morta quando come uma maçã envenenada pela bruxa; e, Isaac Newton, que se inspirou para desenvolver a teoria da gravidade, ao ver cair uma maçã de uma árvore.

Mas, foi na segunda metade dos anos 70, que dois hippies da Califórnia, lhe deram um novo estilo, uma nova forma e uma nova filosofia de vida. Quando um raio de luz incidia sobre um prisma triangular, os estudos de Newton, diziam que, do outro lado, é projectado um espectro exibindo várias cores. As mesmas cores são utilizadas na maçã feliz, as cores do arco-íris não seguindo a mesma ordem, representativo de rebeldia. A maçã é uma das espécies de frutas que precisa acumular mais horas de frio, com temperaturas inferiores a 7 °C. Tal como a conheço.

De tempos a tempos, sente-se só e recorda com a alegria os ensejos em que vivera suspensa numa árvore acompanhada de todas as outras maçãs, agarrada à árvore-mãe, uma macieira de ar frágil mas corajosa e que tudo tinha feito ao longo da vida para manter a comunhão e a felicidade dos seus frutos. Deu-lhes o melhor que sempre soube, que sempre teve, que sempre conseguiu. Vestiu-os com as melhores cores, a cada Verão. Em nada diferente de todas as árvores-mãe.

O pomar que acolhera esta macieira corajosa, há muitos anos atrás, era um pomar trabalhador de semblante ríspido caracterizado pela condição masculina e os valores da altura, liberdade de características masculinas, que vincularam o seu percurso e a sua forma de estar. Nunca deixou de fazer o seu papel de braços abertos pronto para receber os seus frutos. No entanto, muitas vezes se ausentou à procura do melhor, …outras vezes, desaparecia numa dúvida vã que nos acompanha a todos e que nos faz inclusive questionar a forma da nossa existência, …simplesmente desaparecia, mesmo presente. Percebíamos a sua presença, porque o ar rude, se fazia notar, quando achava necessário e exercia a sua autoridade na plenitude.

O pomar amara a macieira no inicio daquela época assim que a vira chegar, na sua juventude e no seu esplendor, que também era o dele. Foi entre Novembro e Janeiro que a transplantaram para aquele pomar. Trocaram dúvidas enquanto acabavam de crescer e criaram raízes agarradas um ao outro. Recorda-a na primavera vestida de flores pequeninas brancas e amarelas de onde provinha um cheiro fresco, viçoso, de árvore pronta para dar frutos, que ainda hoje recorda.

Apesar do tempo, hoje, ter transformado aquele amor, numa tranquila alegria de ter apenas alguém por perto, amadurecem em paz,   cientes do que construíram o melhor que souberam, orgulhosos de tudo o que têm, do que não têm e do que deixaram ficar para trás sem solução aparente, que lhes deixa uma preocupação sempre presente quando se forem embora. 

Desse amor, nasceram frutos de várias cores, forças, estilos e fulgor, de várias castas, Golden Delicious, Granny Smith, Reine des Reinettes, e Apple. Cresceram na liberdade das ruas, sempre vigiados por amas de aventura e perigos amigos. Voltavam a casa ao final dos dias, para dormir e comer, com os  joelhos podres e braços  amachucados por uma briga com outras maçãs mais bolorentas ou com bicho, mas com um sorriso enorme por terem ganho mais uma batalha e vencido mais um dia.

Cresceu à procura da melhor caixa, do melhor supermercado, da melhor montra, de maior protagonismo, …daquele bocado…Venceu. Contínua a sentir que lhe falta um pedaço, mas aprendeu a viver sem ele.


Se ela entendesse, que o significado dessa mordida (bite = byte), desse pedaço a menos, traduz que todos os dias milhares de pessoas sorvem dela o conhecimento, deixaria de se sentir tristonha e sozinha de quando em vez…porque, está sempre acompanhada, por toda a gente em todo o mundo, apesar de não os ver. É feliz do seu modo, orgulha-se por se encontrar espalhada pelo mundo inteiro, por ter chegado onde chegou, tão longe, …é o orgulho dos pais.



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