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segunda-feira, 28 de março de 2011

A memória de Hiroshima...


 
...as placas oscilaram sem avisar, a terra estremece de dentro para fora e num som estridente, tudo abana à passagem do monstro. Passou por baixo dos pés de todos aqueles que se sentiam poderosos à superfície e por baixo dos pés dos humildes também...a seguir veio a água e varreu tudo do lugar.  As pontes perderam os rios, os barcos perderam a água, os aviões perderam as pistas, as casas perderam os alicerces, os comboios  perderam os carris, os carros perderam as estradas, as pessoas perderam os familiares, os amigos, os conhecidos, os entes queridos e, a terra...a Terra  desviou-se do seu eixo, será que se perdeu de si mesma?...O eixo do mal? ...

Há muito, que muitos destes já tinham perdido o Norte, e outros que se tinham perdido dos seus. Agora, outros ainda, perderam a vida, para além de tudo o que tinham e que perderam. Mas, nada importa depois da vida perdida. Há quem se perca todos os dias disto e daquilo, por não querer ser encontrado por ninguém nem por nada e há quem se perca todos os dias na esperança de se encontrar consigo ou com alguém...

Abalroados... atemorizados, procuram o chão e os alicerces... a sustentação de vidas construídas sobre estruturas transparentes sem a solidez necessária para aguentar tempestades, furacões, maremotos, terremotos, tsunamis ou outras intempéries que devastam a vida da terra.

Onde foi que ficou a insustentável leveza do Ser, que nos torna leves e flutuantes à passagem da força da natureza!!! desconheço!!!...Perdidas no interior das trevas cor de rosa desmaiado, procuram uma nesga de esperança, um raio de sol que os aqueça,  que lhes aqueça a alma e os seus contornos. Que monstros são estes que nos fazem sentir pequeninos e indefesos, crianças amedrontadas que não têm atrás de quem se esconder...Não há presente, passado ou futuro que nos sossegue, que nos acolhe ou que nos tome nos seus braços e nos embale...

Se a Terra perdeu o eixo do mal onde se sustinha, não me importo...prefiro outro eixo qualquer, que não seja sustentado pela física e pela matemática, mas que dê conta certa no final...Se somos interceptados por monstros de barriga vazia, que se alimentam do sofrimento dos homens, dos gritos de dor, da perda, da ausência, da saudade de quem se ama, da devastação, dos escombros, do caos, só nos resta aprender a viver por conta própria e transformar as nossas estruturas transparentes em sólidas concepções e convicções que nos guiem pela vida. Não nos sentiremos sós, porque nos temos a nós próprios, apesar de isso não nos bastar...

Mesmo que o ar se torne irrespirável, cada um de nós terá sempre uma bolha de oxigénio puro que nos proporcione continuar a raciocinar de forma límpida de geração em geração e transportar connosco o património mais valioso, que é o Conhecimento...

Memórias de Hiroshima, Nagasawki, Chernobyl e agora Fukushima...

2 comentários:

  1. Ana, há quem diga que desde os primórdios da terra que os dinaussários, depois o homem, sempre tiveram uma coisa em comum: "O Eu"...ou seja, o ego acima de tudo...por razões ainda inconclusivas e continuadamente estudadas, os primeiros desapareceram da face da terra,"Nós", seres racionais (?) para lá caminharemos pelas mesmas razões dos gigantescos animais, que se transformaram em poeira por tanta maldade à mãe terra...num mar de palavras assustadoras, um eloquente texto, que dá que pensar e meditar.

    BJ*

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  2. É MINHA QUERIDA Alfa...mesmo no tsunami interior de cada dia que nos acomete sempre haverá uma saída independente do eixo da Terra...O universo é infinito ...sempre em expansão e em cada um de nós habita um Deus que nos move e nos sustenta e resta-nos ainda , como bem disseste, o Conhecimento. Bela música com Ney Matogrosso , ilustra bem o caos e as lembranças de um dia de horror! Abraços.

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alfa diz: