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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A liberdade de ter o céu como tecto e a terra como chão (2)


Pelo meio da busca incessante que decidiu travar, continuava a cumprir todas as rotinas, que o exército lhe impunha. Restava-lhe sonhar, de olhos abertos ou fechados todos os dias um pouco, com liberdade e com imaginação. Contudo, na manhã seguinte voltava a levantar-se muito cedo, vestir o uniforme e tomar o seu lugar na linha de montagem para regressar a casa à noite, sem uma história bonita ou alegre para contar, sem ter a quem. Os dias sucediam-se desta forma e as horas desenrolavam-se em permanente competição; os soldados tinham que cumprir os objectivos estabelecidos até ao final de cada mês.

Depois de lhes roubarem todas as forças, durante os 365 dias do ano, as patentes militares, achavam-se dotados de uma generosidade inigualável e compensavam os que tinham passado menos tempo no seio da família, entre os amigos e numa ou noutra saída cultural, com um Prémio em dinheiro.


Claro que, tudo, o que os seus pais, avós e as gerações anteriores, tinham vivido ou morrido para conquistar como direitos dos trabalhadores e sindicatos eram vistos com maus olhos, “démodé” e apenas constituídos por moribundos enternecidos com as memórias do passado.

Jack, não dava atenção as estas coisas, o cansaço era tanto de um dia atrás do outro, que mal tinha tempo para pensar ou antes para raciocinar.

Mas um dia... algo de surpreendente aconteceu… tinha encontrado um amor.

Ela também integrava o mesmo exército, vestia uniforme feminino “tailleur” cinzento ou azul-escuro, estatura média, curvilínea e usava o cabelo apanhado. Irradiava uma beleza extraordinária. Quando se cruzava com ela, sonhava o resto do dia e na noite seguinte com os caracóis louros que não se deixavam domar, outras vezes fixava-se nos olhos amendoados, expressivos e carregados de ternura que sabia usar bem, quando passava por ele. Percebeu, com a inocência e a inexperiência do desconhecido, que aquele era um mundo novo e apaixonado, entregou-se, achando que tinha finalmente encontrado a chave para a felicidade e por consequência para a liberdade.

Foram bons demais, os poucos dias que passaram juntos até algum tempo depois de estabelecer o compromisso. Jack voou alto, muito alto mesmo, por várias vezes ao lado daquele amor… mas aos poucos, devagarinho, muito devagarinho e quase contrariando as evidências foi percebendo que ela tinha medo das alturas. No início, não existia a cumplicidade e o conhecimento mútuo para ela lhe confessar os seus receios e ele, por sua vez, não tinha maturidade suficiente para a fazer acreditar que era fantástico voar, … nem tempo para a ensinar. Quanto mais alto ele subia aos céus e procurava a sua companhia ela tremia só de pensar no convite. A distância foi-se tornando cada vez maior entre os dois, ele triste deixou de o fazer, ela triste perdeu-se na terra onde gostava de sentir os pés, assentes no chão.

Jack entristeceu e retomou só, a sua rotina. Mais perdido e inconsolável do que nunca, soube-lhe bem voltar só e apenas ao seu lugar na fila para cumprir de novo o protocolo “militar”. Precisava de algo que o colocasse no caminho de novo e recomeçar do sítio onde tinha desviado o seu rumo. Assim, continuou por alguns anos mais, no entanto não conseguia esconder de si próprio a saudade que sentia daquela sensação de liberdade extenuante que lhe tinha coberto o coração e alimentado realmente a alma.

Anos mais tarde, sem mais nada seu para além dele próprio, tomou consciência que a felicidade e a liberdade não dependia dos outros… e, voou de novo definitivamente …


4 comentários:

  1. Jack gostaria de te "conhecer"...a maneira como lhe dás "vida" é tão real,que dá ideia de um amigo de todos os dias...!!!

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  2. P.Barros, vi o teu comentário e agradeço a atenção que dispensaste ao meu novo, muito novo, fresquinho ainda, blog. Contudo, como ainda não domino completamente todas as possibilidades de postar, comentar... ainda estou a descobrir como funciona e a experimentar e por isso às vezes meto os pés pelas mãos, daí que não sei o que fiz ao teu comment que li e que achava que estava visível no meu blogue, o que não aconteceu. Espero que esteja tudo bem com vocês(de vez em quando falo com o Vitor),por isso vou sabendo noticias. bjs para todos. Da próxima vez corre melhor.

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  3. P.Barros, ahhhhhhhhhh já o encontrei estava no post anterior. bjs

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  4. Não te preocupes, já o lês-te não interessa,ah ahahahah, dah...

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alfa diz: