Faz tempo que não se via tanta alegria na Tapada de Mafra. Desde cedo que o reino animal e vegetal permaneciam em alvoroço...
...de tal forma, que é possível ouvir daqui o burburinho.
...desde 1747 que não se ouvia tamanho entusiasmo na Coutada Real. Os veados, os gamos, os javalis, os ginetos, os saca-rabos, as raposas, as várias espécies de aves de rapina bem como, todas as espécies de origem vegetal, plátanos, sobreiros, pirliteiros, carvalhos, choupos, pinheiros e eucaliptos ...aguardavam com entusiasmo a chegada de João, o pequeno/grande Guerreiro.
- João era um menino doce na intimidade e um guerreiro na Vida.
Talvez por ser do conhecimento do povo (a segunda oração da frase anterior),...que todos os animais e vegetais permaneciam desde cedo irrequietos, por ali.
Ao longo dos poucos anos que tinha de vida, os animais tinham ouvido contar histórias sobre os feitos, as batalhas e as conquistas de João Guerreiro. Havia também quem o tratasse por Zulu, mas esses eram poucos, senão apenas, os que com ele partilharam em tempos, momentos de uma tribo por onde andou, lá no outro continente. Por muitos lugares tinha deixado marcas e saudades sobretudo.
Dizia, ainda o povo, conhecedor do seu curto percurso, que tinha grandes amigos, alguns humanos outros naturezas mortas, de muitas folhas e letras onde se contavam histórias, umas de encantar e outras nem por isso.
- Ribombavam os tambores, quando a carruagem chegou. As crinas dos cavalos, puros lusitanos cobridores, luzidiam aos primeiros raios de sol... não porque fosse cedo, mas porque o nevoeiro encobria o astro-rei de há uns dias, até então. Todos os animais já tinham comido pelo menos duas vezes, quando o pequeno/grande João Guerreiro colocou o primeiro pé, no primeiro e único degrau da carruagem.
O casal de lobos residentes recentes da tapada, tinham sido incumbidos de uivar ao primeiro sinal da sua chegada, que era dado pelo inigualável voo da águia-de-bonelli até então de vigia.
Foi o que aconteceu. Comecei a ouvi-los...uivo atrás de uivo, no marco mais alto da Tapada...uivavam tão alto e tão imponentemente, que quase me senti tentada a ir ver a sua chegada, mas era impossível, alguém me tinha marcado na agenda outros planos para o dia de hoje, ir mais para Sul.
Nesse momento, por aqui tudo parou, os carros congelaram, as pessoas cristalizaram, e os relógios marcavam a hora da sua chegada. O tempo tinha parado e a Vila estava inerte.
João, saiu finalmente de corpo inteiro e todos em uníssono permaneciam em silêncio absoluto. A curiosidade era tanta, que queriam gravar todos os seus passos e os seus gestos.
O silêncio foi rompido por uma voz que anunciava a sua chegada ao patrono, D. João V, rei de Portugal e aos seus convidados reais. Filho de D.Pedro II e de Maria Sofia de Neubourg, foi aclamado rei em 1707. Com os cognomes de "O Magnânimo ou o Rei-Sol Português", recordado entre dentes, como o "Freirático", devido à sua conhecida preferência sexual por freiras, revestiu todo o seu reinado de luxo em consequência da descoberta das minas de ouro do Brasil e igualmente fascinado por Luís IV, rei da França e o inventor do luxo, apreciador de diamantes, champanhe (vinho dos reis), sapatos de salto alto, gastronomia rica, as perucas, os predecessores de boutiques, griffes e salões de cabeleireiros e perfumes, assim como dos primeiros criadores de alta costura.
Como propulsor, o reinado de D. João V, foi caracterizado, por aspectos de muito interesse: o barroco na arquitectura, mobiliário, talha, azulejo e ourivesaria; na filosofia surge Luís António Verney com o Verdadeiro Método de Estudar e, no campo literário António José da Silva. É fundada a Real Academia Portuguesa de História e a ópera italiana é introduzida em Portugal.
Estadista exemplar, admirador das teorias absolutistas, beato e eternizado pelo esplendor da corte, da vida social e cultural e das fortunas gastas para engrandecer a coroa, mas também para satisfazer caprichos pessoais, obcecado por freiras e viciado em afrodisíacos.
O casal de lobos residentes recentes da tapada, tinham sido incumbidos de uivar ao primeiro sinal da sua chegada, que era dado pelo inigualável voo da águia-de-bonelli até então de vigia.
Foi o que aconteceu. Comecei a ouvi-los...uivo atrás de uivo, no marco mais alto da Tapada...uivavam tão alto e tão imponentemente, que quase me senti tentada a ir ver a sua chegada, mas era impossível, alguém me tinha marcado na agenda outros planos para o dia de hoje, ir mais para Sul.
Nesse momento, por aqui tudo parou, os carros congelaram, as pessoas cristalizaram, e os relógios marcavam a hora da sua chegada. O tempo tinha parado e a Vila estava inerte.
João, saiu finalmente de corpo inteiro e todos em uníssono permaneciam em silêncio absoluto. A curiosidade era tanta, que queriam gravar todos os seus passos e os seus gestos.
O silêncio foi rompido por uma voz que anunciava a sua chegada ao patrono, D. João V, rei de Portugal e aos seus convidados reais. Filho de D.Pedro II e de Maria Sofia de Neubourg, foi aclamado rei em 1707. Com os cognomes de "O Magnânimo ou o Rei-Sol Português", recordado entre dentes, como o "Freirático", devido à sua conhecida preferência sexual por freiras, revestiu todo o seu reinado de luxo em consequência da descoberta das minas de ouro do Brasil e igualmente fascinado por Luís IV, rei da França e o inventor do luxo, apreciador de diamantes, champanhe (vinho dos reis), sapatos de salto alto, gastronomia rica, as perucas, os predecessores de boutiques, griffes e salões de cabeleireiros e perfumes, assim como dos primeiros criadores de alta costura.
Como propulsor, o reinado de D. João V, foi caracterizado, por aspectos de muito interesse: o barroco na arquitectura, mobiliário, talha, azulejo e ourivesaria; na filosofia surge Luís António Verney com o Verdadeiro Método de Estudar e, no campo literário António José da Silva. É fundada a Real Academia Portuguesa de História e a ópera italiana é introduzida em Portugal.
Estadista exemplar, admirador das teorias absolutistas, beato e eternizado pelo esplendor da corte, da vida social e cultural e das fortunas gastas para engrandecer a coroa, mas também para satisfazer caprichos pessoais, obcecado por freiras e viciado em afrodisíacos.
João, por sua vez, com os pés assentes na terra, desfez então uma vénia pela cintura saudando os presentes...
...conquistou tudo e todos imediatamente com aquele simples gesto. Consigo, trazia um amigo, para lhe contar uma história, caso a cerimónia se tornasse enfadonha nalgum momento.
De cabeça erguida e corpo hirto, passou os olhos pelos presentes, às senhoras distribuiu sorrisos com os olhos e meias vénias só com a cabeça e aos senhores apenas meias vénias sem sorrisos. João, tinha aprendido há muito, como saudar uns e outros. Tudo eram conquistas.
Pelo meio de vestidos amplos, volumosos e pregueados, corpetes folgados, panniers e as farthingales na armação das saias, penteados exuberantes, altíssimos, com enchimentos e elementos decorativos, perucas, leques, maquilhagem empoada, chapéus enormes e com muitas plumas, indumentárias femininas e casacos justaucorps, ajustados na cintura, coletes bordados, calções extremamente justos, lenços originados das golas da chemise, muito volumosos no pescoço, passeavam-se homens e mulheres na cópia perfeita da corte francesa de Versalhes.
Da ementa, faziam parte várias iguarias, como tigelas de caldo de galinha com uma gema de ovo e sopas de vaca, perdigões assados, guarnecidos com linguiça, coelho, peitos de vitela de conserva, pastelões de várias carnes, pastéis fritos de carneiro com açucar e canela, ôlha castelhana especialidade de carnes várias com grãos, nabos e açafrão, doces fritos e fruta do campo.
Durante a cerimónia e mesmo não conhecendo ninguém, misturou-se subtil, humilde e habilmente com toda a gente, como era seu hábito. Esta era uma das suas características mais marcantes, vivia no meio do povo e da nobreza e da burguesia, com quem trocava gargalhadas, opiniões, histórias de todos os tempos e mundos por onde tinha passado...pediam- lhe para contar bravuras, mas ele fugia de o fazer.
Enquanto isto, na Vila mais próxima onde eu vivia e após o turbilhão que abalou o tempo e o congelou, pude correr à vontade, gritar, esbracejar, dançar no meio da estrada, deitar-me no alcatrão, assobiar alto, dizer palavrões, despir-me na praia por inteiro, tomar banho sem salpicos de ninguém, ficar em pé em cima das mesas de um café, eu sei lá...
...fazer até, o que não se deve em lugares públicos porque é feio, dizem...Tudo continuava ainda imóvel. A minha festa continuava entre jograis e mercadores, reis e rainhas, nobreza e povo cristalizados, em que eu era a única em movimento.
...Pelo meio da alegria estonteante que tomava conta de todos, ao fim de longas horas de repasto, música e muito vinho, de penteados agora desfeitos e de roupas desalinhadas...João, abandonara a festa...sem que ninguém desse por isso...precisava entrelaçar o coração e a alma por entre as histórias contadas pelos amigos que tinha sempre consigo, ....procurara um lugar ermo entre bichos e plantas, admirava agora a paisagem e o silêncio.
A natureza tomava conta dele, espreitava-o curiosa e em silêncio...apenas a águia-de-bonelli sabia o seu paradeiro. Acabara adormecendo com a cabeça amparada pela barriga de um gamo fémea ao som das folhas dos carvalhos e dos choupos que embaladas pela brisa faziam música.
E, eu entretanto, na minha vila adormecida, depois de fazer tudo o que antes me tinha sido interdito aproveitei o silêncio que ali também reinava, para escrever, escrever e escrever até adormecer sobre os sonhos...
Amanhã, vai ser outro dia, resta saber se alguém pretende acordar...
Li gostando cada vez mais. Video e um belo texto que não dá vontade de acordar de tão bem escrito e descrito.
ResponderEliminarBeijos e ótima semana, Alfa.
Lindo texto. Amei.
ResponderEliminarEspero que tenham acordado tarde e a más horas, desfrutando o descanso dos guerreiros, porque se tem de recuperar energias do cansaço bom de aventuras como esta.
ResponderEliminarKandandos meus.
un gusto visitar su espacio.
ResponderEliminarun abrazo
Por mim deixo-me ficar adormecida...
ResponderEliminarQuero acordar só para ler ou ouvir estórias como esta!
Beijo
Que contadora de histórias... eu não quero acordar porque já estou sonhando com tudo o que acabei de ler aqui, Adorei!
ResponderEliminarBeijinhos
Ana Almerum,pela certa andas a tomar a poção do Ástérix...pela força que dás ao teu conto de encantar...pela soberba forma das tuas palavras nos entrarem nos sentidos,e nos calar de tanto espantar...seja lá o que for,o melhor é não acordar,e sonhar com este texto,assim que a modos de nos maravilhar...gostei,e muito!
ResponderEliminarBj*
...e já agora passa lá p´lo "outro lado"...e explica porque comentáste três vezes (3);-)...estou míope,mas não tanto ;-)
ResponderEliminar...E para não te ficar atrás,e não há duas sem três,aqui estou outra vez ;-)
ResponderEliminarBj*
Magnifico! Adoro contos com mistura de história, com reis e rainhas e príncipes e princesas;o)
ResponderEliminar***
Beijinhos e obrigada pela partilha*******
Endosso o que disse Cildemar. Preciso destacar também o penúltimo parágrafo, maravilhoso! E esse vídeo divino que acompanha seu conto,muito bem escolhido.
ResponderEliminarParabéns!
Oi Alfa...engraçado é que me vi na sua lista de seguidores, acho que nunca comentei apesar disso....rs
ResponderEliminarDeixa eu ver se entendi, seu conto nasceu da sua falta de sono...foi escrevendo...escrevendo até chamar o sono...
Um conto interessante...feito de estórias e histórias...
Um abraço na alma...obrigado por sua visita...volte sempre que puder e quiser
Beijo
Será que vislumbro um entrecruzar de histórias, com diversos assomos, em que cada uma procura assomar à tona d'água, qual revolta das memórias em busca de pousio na actualidade das pessoas?
ResponderEliminarBjs
Narrativa em ´História fundamentada, intensa,um belo roteiro, para contundente película,tu és escriba e jo ,neófito teu soy!
ResponderEliminarBzus girassolicos!
PS Ah!a segunda pele,pronta está,resta sedimenta-la em mente minha,para em post transmutar!
viva la vieeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee