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domingo, 18 de setembro de 2011

...no mundo de grades e portas fechadas...


Deito-me no meio dos escombros. Há uma nuvem de pó por cima de mim, que me altera o cheiro, o paladar e o significado de uma vida que passou. Uma vida curta.

Aninho-me, algo me assusta, talvez o receio do que vem a seguir. Vejo a juventude que ficou lá atrás e os sonhos que  ficaram com ela, ...estavam a beber café, não deram por me vir embora e continuar... 

Enquanto isto, fugiu-lhe a vida...

Foi por entre os dedos que se escapou, empurrada pelo mundo e pela pressa dos dias,... pela história ou pelas histórias de sacrifícios, apenas feitos por ela.

Não quero significar mais do que o necessário, não quero imposições, quero apenas odores de Primavera por perto. Quero a vida que gerei, é minha, é o meu único e sólido laço com a terra.

Mas a vida não a ouve e foge-lhe...
Foge-me a vida, esta vida que me obriga aceitar o que não gosto e o que não tenho vontade, foge-me até a vontade.

Fugiu-lhe a terra debaixo dos pés...hoje, mistura-se com os escombros...

É outra mulher, que não se conhece e que não  reconhecemos. Daquele forte génio resta agora e apenas confusão e... palavras mansas. Foi levada para longe do mundo, encarcerada pelas grades numa casa de portas fechadas, à chave. Esquecida por Deus e no futuro pelos homens, deixou a sua marca profunda quando ainda conseguia gritar e espernear. Agora não, é a primeira a negar a realidade, não acredita em mais nada, RECUSA-SE.

Eu, de fora, assisto ao espectáculo cruel a que me obrigam, ao desmoronar  de mais uma mulher amiga, que perdeu as forças e se entregou de qualquer maneira à loucura de todos os dias com grades e de portas empenadas...

Queria resgatá-la, mas ela não vem,... não a posso obrigar. 
Foi por todas as obrigações que sentiu, que perdeu o amor próprio, quando apenas queria, o próprio AMOR. Não sabe mais o que isso é, não sente mais o quanto nos faz falta, não lhe sente mais a falta...melhor assim...


2 comentários:

  1. Mas...a falta que tu nos fazes, Ana,fazes mesmo!

    Beijinho

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  2. Ana,

    É de ti, é de mim... que falas?!
    Este teu texto está tão dentro de mim, é tão meu que me assusta...
    É seguramente mais uma daquelas vezes em que alguém escreve o meu texto - talvez por eu já estar mesmo em tempo de "recusa".

    Um beijo muito grande

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alfa diz: