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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Recordar - Brincar com as palavras...cifra de transposição ou anagrama...



(adoro esta música ....faz tempo que não a ouvia,...é uma música da minha adolescência,...e agora voltei a encontrar-me com ela  - Eagles. Para o meu filho, a  inspiração para esta história,...)

...e se parássemos um pouco...estou cansado! - Respondia o menino, com a cabeça deitada no antebraço pousado na secretária, sem forças para erguer aquela invenção de outros tempos, a esferográfica. Depois de um dia de escola repleto de letras, números, conceitos, regras e muita brincadeira, a meio de mais uma semana, de um ano lectivo qualquer e perdido entre livros, cadernos e lápis, o João esforçava-se para não desiludir a mãe, que ao seu lado paciente permanecia.

- Por favor, João estuda. Suplicava a mãe, sonhando com um futuro melhor para o seu único filho e por isso a sua única esperança.

- Escreve um título para uma composição, em que utilizes apenas 20 letras, nem mais nem menos. Usa apenas: três E's; quatro S’s; dois P’s; dois A’s; dois M’s; três O’s; dois U’s; um C e um R. É o último T.P.C. que te passo hoje, amanhã continuas... depois, podes brincar com as letras como quiseres.

Ainda mal tinha agarrado na caneta, já as palavras se atropelavam umas às outras e queriam saltar para fora daquele pequeno cérebro, sem que este conseguisse proceder ao seu registo.

Cada uma gritava mais alto que a outra, para se fazer ouvir.

- Eu sou a primeira! Dizia com convicção uma delas, por ser a mais antiga.
- Não, a primeira palavra da primeira frase sou eu, porque sou a mais bonita de todas.
- Ora, ora, replicava outra. - Era o que faltava, eu cheguei primeiro.
E outra, - Pois eu sou a 2ª palavra da 3ª frase, está bem? A confusão continuava...

Ao fundo o João ouvia.
- Não, não e não, eu quero ser a 5ª palavra da 14ª frase, já disse! - Eu tenho mais perfil para ser a 8ª da 10ª frase. - Eu quero ser a última palavra da última frase, para que  todos se lembrem de mim...

…e assim ensurdessivamente???!!!, ou ensurdecivamente, ensurdecessivamente ???!!! Esta, era uma palavra tão nova, tão fresca e acabada de nascer que nem ela própria, ainda sabia como se iria escrever. Os gritos das palavras estonteavam os ouvidos ao João.

Teimosamente, empurravam-se umas às outras sem conseguir formar em fila indiana, para dar início ao exercício, ao desafio invulgar. O cérebro do João, não conseguia sequer a concentração necessária, para enviar uma simples mensagem à sua própria mão. Mão essa, que por sua vez havia de fazer deslizar o bico da caneta sobre o papel.

Interrompidas pelo menino em desespero foram as palavras, que perplexas e assustadas ouviram em tom determinante e decidido!
- Por favor, parem de fazer barulho! Comportem-se! Preciso pensar! Eu, é que vou decidir a ordem porque vão ficar alinhadas, aprumadas na folha. Ouviram?

Abrandando o tom, acrescentou:

- …primeiro, preciso saber, quantas palavras consigo fabricar com aquelas vinte letras; escolher o tema do texto e só depois, dar-vos um sentido, organizar-vos em frases/orações com sujeito, predicado, complemento directo ou indirecto… dar sentido às orações, simples ou complexas; como pretendo que sejam ligadas entre si, por forma da conjunção ou da subordinação; optar por conjunções e locuções conjuncionais coordenativas ou subordinativas, copulativas, adversativas…, condicionais, comparativas, temporais, concessivas ou finais… Mas, para hoje, a minha mãe disse que só teria que criar um título, o resto da composição só irá ser feita amanhã, não há razão para se atropelarem, parecem crianças no recreio.

Fez-se silêncio… a maioria das palavras e das letras perceberam finalmente, que não precisavam correr aos empurrões, talvez só amanhã, caso o João voltasse a estudar.

O silêncio, agora trespassado apenas pela música de fundo proveniente do rádio que tinha no quarto, trazia a quietude perfeita. Meteu mãos à obra, adorava edificar desta forma.

Começou a escrever e a ordenar alfabeticamente todas as palavras que surgiam no espírito, tendo sempre como regra as vinte letras, naquela quantidade determinada, para erigir o título que a mãe lhe pedira, como último esforço para o dia de hoje.

…ama/amara/Amo/amor/asco/cessou/com/comer/compor/comum/copa/couro/era/Era/espasmo/espera/
esperamos/esse/espesso/maus/meus/mouros/museu/opus/ouro/ousar/para/passamos/peou/pouco/peso/
pesar/ramos/rapar/raspo/remos/ria/riamos/rumar/rumo/sapo/sarar/se/separar/ser/seremos/somos/sopro/
soro/sua/supra/uma/usar/…

Depois de inúmeras tentativas e muitas possibilidades sem sentido, chegou à conclusão que tinha descoberto uma, sem querer saber se haveriam outras.

Aproveitou para brincar, agora com a mãe, dizendo que ia apresentar-lhe o título da sua composição em cifra de transposição ou Anagrama.

- O que é isso João? - Deixa-te de brincadeiras, vá lá filho, ainda tens que tomar banho, jantar e dormir, para te levantares cedo de novo e não chegares tarde ao colégio.

-Mãe, vou dar-te uma ou duas pistas, para te ajudar a descobrir. Por exemplo: Elegant mana gentelman, tal como Elvis é um anagrama de lives. Foi a professora de inglês que me ensinou. Funciona do seguinte modo…, as letras de uma mensagem são retiradas da sua ordem original e realinhadas num outro padrão. é um anagrama de

- João, por favor, não tenho tempo para as tuas brincadeiras, amor. Preciso de ir fazer o jantar entre outras rotinas da casa, senão não consigo com que te deites cedo para descansar o suficiente. Mostra lá o título que escolheste e deixa-me contar as letras.

- É este, mãe - ...e, sem poucos amar, peou-se…

A tarefa tinha-se revelado difícil, porque o João tinha apostado em cumprir as regras que a mãe lhe tinha imposto e ainda tentou aplicar a cifra de transposição, apesar de cansado de facto. Foi quando disse …e, se parássemos um pouco…que se lembrou dos jogos que se podem fazer com as palavras e com o mesmo número de letras, na quantidade original, procurar encontrando uma outra frase que faça sentido.

Era um exercício difícil, mas tinha lhe dado um imenso prazer. Tinha feito apenas uma pequena batota, que nunca revelou a ninguém e que arriscava, que o professor da disciplina de Português quando fizesse a correcção do T.P.C., talvez não desse por isso, só com a preocupação de ter que ler em pouco tempo 26 composições, que eram o número total de alunos que compunham a turma do 7ºB, a sua turma. Não utilizou o assento grave (´).

Para o dia seguinte, resolveu deixar o corpo do texto. Contudo, já tinha decidido mesmo antes de arrumar a mochila, que iria utilizar as metáforas de quem tanto gostava, as hipérboles, as personificações e os eufemismos, amigos com que gostava de brincar nos dias de frio e chuva que o privavam de jogar à bola na rua.

Um dia queria ser um grande escritor, mas não tinha pressa, sabia que, tinha ainda muito para aprender.



quinta-feira, 27 de maio de 2010

Recordar - ....Laura, em telhado de zinco quente....






Laura, hoje estava pensativa… Enquanto perdia as horas do dia, recordava o último filme que vira, enroscada nele. Não pretendia fazer nenhuma analogia com a protagonista do filme, até porque para além de "ronronar" muito melhor que ela, não era loira, mas parda.


De pêlo brilhante passeava elegantemente por cima de tudo, pelos sofás, no tapete branco felpudo, já para não falar no colo do seu dono.


Aquele homem sem nome, sempre que chegava a casa, a primeira coisa que fazia ao meter a chave à porta era chamar por ela.


- Lauuuuuurrrrrrraaaaaa – melodicamente, entoava o seu nome.


Ela aparecia imediatamente e de forma carinhosa, como era seu hábito, entrelaçava-se nos seus tornozelos num ballet digno de ser visto por uma plateia de aplausos e ficava à espera de ser retribuída pelo calor da sua mão. Aliás, perspicaz como era... momentos antes de lhe sentir o cheiro ao fundo das escadas do prédio, vinha para o hall de entrada e ficava muito atenta a ouvir-lhe os passos, um a um, no último patamar do elevador. Há vários anos que o recebia sempre da mesma maneira e com o mesmo entusiasmo.


Laura não gostava do seu nome, mas fora ele que lho dera no primeiro encontro…

Assim que lhe pegou, numa loja de animais...olhou para ela e disse, entusiasmado com a possibilidade de ter uma companhia no futuro próximo:
- Vou chamar-te, Laura.


Às vezes, ela fazia questão de lhe recordar que preferia outro nome qualquer, e obrigava-o a repetir em vão, sem responder às chamadas. Laura, sabia que apesar de ser ali que existia tudo o que sempre sonhou, naqueles 200m2 de conforto, boa comida e muito carinho... também gostava, de vez em quando fingir ser um pássaro e de vez em quando voar.


O seu dono sem rosto, encontrou-a várias vezes naquela janela das águas furtadas e via-a sair rumo ao telhado de zinco, onde adorava preguiçar nos dias soalheiros em que o Sol fazia o resto... aquecia o telhado. Ora de barriga para cima, ora de barriga para baixo, aproveitava para admirar a paisagem e tudo à sua volta... os carros, as pessoas, … ou então, o rio, o céu, as nuvens e os pássaros.


Um dia apaixonou-se.


Primeiro foi pelo rio, onde se imaginou a navegar, a nadar, a mergulhar e a contar peixes a dois. Depois apaixonou-se pelo céu que era da cor dos seus olhos, azuis. Mais tarde por uma nuvem, mas concluiu que tinham objectivos de vida diferentes. E, por fim, por um pássaro, que um dia lhe caiu à frente do nariz e que a fez acordar no meio de um sonho.


O sonho estava a ser maravilhoso. Eis senão quando, jaz um pássaro sem bando, caído à sua frente e lhe pediu ajuda, estava ferido. Laura, tinha um coração enorme e um estômago habituado pelo seu dono sem nome, a comer comida de lata.


O que toda a gente esperava, era que ela fizesse jus à sua espécie e se atirasse de cabeça para o comer, mas Laura aprendeu a resistir aos instintos mais primários e não salivava pelos seus antepassados.


A fragilidade em que O encontrou naquele momento, fez com que revelasse a sua complacência e compaixão e mais tarde, os sentimentos mais nobres que uma gata pode sentir por um pássaro. Foram dias perdidos de histórias que ele lhe contava do mundo dos pássaros e histórias que ela lhe contava do mundo dos gatos… no telhado de zinco… sempre quente, pelo Sol.


Dias e noites, após...


Laura, abandonou praticamente o seu dono sem nome. Faltava já muitas vezes à primeira chamada, quando a porta de casa se abria, ao fim da tarde. Não lhe fazia mais falta os seus tornozelos ou o calor da sua mão.




E, um dia, pela última vez respondeu à primeira chamada; - Lauuuuuuuurrrrrrrraaaaaaaa. Dançou, despediu-se daquela mão quente que tantas vezes a afagou, subiu ao telhado e voou com ele.




Hoje, não se chama mais Laura, mas apenas Gata.

domingo, 23 de maio de 2010

Recordar - O Vento, o Caos e Maria

(recordar)

Maria estava agora perdida no caos… mais do que nunca…sem ao certo, saber porquê…

Ainda atordoada, perguntava a si própria baixinho porque não conseguia descortinar o caminho de volta para casa. Aquela casa, branca, térrea, com janelas de portadas verdes escuras, um alpendre, e com muito espaço à volta preenchido por alfazema, a seu tempo, salpicado de campânulas e papoílas, que lhe traziam tantas e tão boas recordações.

A sua casa era a única que permanecia no mesmo sítio desde o último tornado, que levara muita coisa pelo ar. Maria, procurava esquecer o assobio do vento enraivecido a soprar aos seus ouvidos. Tinha aquele som gravado e tinha medo. O vento estava zangado, muito zangado. Em plena sinfonia desenfreada, Maria ainda tentou perguntar-lhe de mansinho o porquê de tanta ira. Mas ele nunca a ouviu, porque assobiava mais alto que a sua voz doce e meiga, que só era perceptível no silêncio. Quando cruzavam olhares, ela e o vento, voltava com os olhos a questiona-lo, mas era impossível, porque ele rodopiava, rodopiava e rodopiava, sem nunca abrandar. Nunca lhe respondeu.

Os campos e as sementes, os cheiros, as lembranças doces e amargas, os amigos de sempre, as pessoas em quem confiava, os sorrisos fantásticos que outrora víramos estampados em rostos de felicidade, os sonhos poucos, muitos ou nenhuns, esvoaçavam como se a possibilidade de sonhar não fosse pertença de todos em igual modo e quantidade. O tornado levara almas e corpos, gentes, vidas, sem qualquer preferência por raça, credo ou cor. Levou as conchas todas que apanhou, praias inteiras, golfinhos, cavalos de pau e marinhos…

Retratos de família, brincadeiras de criança, amores permitidos e proibidos, vestes, ficando nuas e sentindo um frio de arrepiar. Levara também as árvores, os pássaros e os seus ninhos e as crias de todas as espécies animais e vegetais…

Sem perder tempo, o vento ciclónico e terrivelmente apressado levou consigo também todos os filhos, as Mães, os Pais, o Pai Natal, o trenó e as renas, as prendas, os doces, o que tanto queríamos e o que nunca tínhamos desejado de bom e de mau e levou também o ano anterior.

Levou A música… que profunda tristeza sentiu Maria, … a música fazia-lhe tanta falta.
As pessoas interessantes que conheceu,
A magia das coisas, as coisas boas e as coisas más.

Consigo, o vento levou ainda os mares, os rios, os lagos e os charcos. As fontes por isso secaram, não queriam ficar sozinhas. Os peixes coloridos e os prateados também tinham desaparecido, abriram a porta e saíram em fila, uns atrás dos outros, pelos céus...

As nuvens empurravam-se, umas às outras, carregavam em cima aviões com pessoas, pessoas com histórias, histórias de famílias, de laços e de “nós” consanguíneos.

Os sacos que nunca serviram para outra coisa, aproveitaram para transportar o que restava, as coisas mais humildes. Levaram brinquedos novos e velhos, apanhavam tudo com uma das asas e metiam dentro de si tudo o que lhes acontecia pela frente.

Maria não queria acreditar que um tornado fosse capaz de anarquizar tudo e que após um período de trégua, voltasse a baralhar e dar de novo.

Percebera, então onde estava. Permaneceu o tempo todo dentro de casa, refugiada num canto da sala. Cerrava os olhos, para de vez em quando matar a maldita curiosidade por entre os dedos e ver na direcção de uma das três janelas ainda fixas às paredes da sala…o que continuava acontecer…

Maria olhava em volta, e via o caos e o vazio.
….

Por último, os seres Tornados homens levaram as palavras e com elas, Maria deixou de poder dizer o que quer que fosse, desaprendeu de soletrar e tombou silenciosa e inerte.

O Seu último olhar foi para ver Maria, voar de si própria, dançando com o vento e esboçando um sorriso.
-Adeus, Maria - disse a si própria.


Amigos,

passem pelo blog "Viver é Pura Magia" que está nos blogs que sigo...Surprise!

Obrigado Ricardo, ficou maravilhoso acompanhado da música de Bob Macfferrin....é para mim uma honra que pegue num post meu e o dê a ler a todos os seus seguidores. Bjs, vamo-nos encontrando por aqui.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

...observada (II)...


  


- Não é por acaso que me chamo Joana, mas ainda não é o momento para vos revelar...

- Hoje andei em círculos...
- Perdida nos meus pensamentos e nas tuas palavras..."procurei-te" por toda a parte... 




...o último agasalho que vestiu esta primavera, muito antes deste calor apressado...Joana, despediu-se da última brisa, fazendo dele a sua casa e  o seu botão...


- Sonhei contigo... No meu sonho...abracei-te...beijei-te e amei-te como nunca outra vez...


...atenta à leitura e àquela passagem em particular, do livro que tinha entre mãos, Joana lia em voz alta, "...um dia vou encontrar-te e com a serenidade e a curiosidade que me  caracteriza vou explicar tudo, para que não restem dúvidas entre nós. Explicar, que os equívocos de código por que passamos foram justificados pela distância e pela proximidade que nos impusemos e que de forma inconsciente deixamos proliferar... pretendo deixar claro, que não era essa a minha intenção, nunca foi, desde o início de tudo... 

Procuro apenas a simplicidade, não a complexidade das coisas... procurei em ti um amigo, apesar de toda a gente me dizer que a amizade entre um homem e uma mulher é impossível de acontecer (essa afirmação para mim, nunca fizera sentido...) por isso, mais uma vez voltei a tentar...

Isso, não chegou verdadeiramente acontecer...ultrapassamos o espaço e o tempo e até hoje a dúvida permanece...O que é que ambos procurávamos?



...procurávamos!!! apenas um amor puro e são, apaixonado, onde reinasse o carinho, a cumplicidade, um amor abandonado à ternura, aos momentos, sem necessidade de tréguas porque as guerras não existiriam, mimos,... Sim, um amor ardente também, sempre que quiséssemos... porque, o fogo faz parte de mim e de ti... e de toda a gente que não procura apenas prazer, mas também um coração onde se aninhar."

Joana, fazia uma pausa para pensar no que acabara de ler..., aquelas palavras pareciam-lhe familiares,...na verdade, aquele livro que de quando em vez lhe aparecia nas mãos, sem ela o procurar, queria que aquelas palavras lhe trespassassem o coração e a tornassem mais gente, ...para que deixasse de amar tantos os livros e passasse a amar mais as pessoas...

O texto continuava e confessava ainda, que eram as imagens que  envolviam alguém numa saudade ténue, mas permanentemente presente, que se lhe agarrava ao peito sem dó, nem alma... estava amarrada, ancorada ao desconhecido... pela fantasia e pelo desejo...e a concentração desaparecia...



Joana, perdia agora o sono, depois de ter despojado o sonho...



- Não, não posso distrair-me, tenho que me concentrar, pensava para si ...Mas a razão, tinha já sido inundada pelo sonho e o sonho por ser  só sonho se desfazia...

Perguntava-se:
- Que sabor teria sido esse que lhe ficou? de nada, de coisa nenhuma... que lhe aguçou um dia o paladar... 

Joana, permanecia acordada...não conseguia mais dormir...e questionava-se..., sobre que livro seria aquele que teimava em ficar ao seu lado acordado de vigia...


sexta-feira, 14 de maio de 2010

...observada (I)...

 
 

Joana, deixou-se beijar pelo Sol ainda envergonhado! 

Acordou tarde, nesse dia. Desde o Inverno passado, que os seus sonos tinham mudado de horários... Meses havia em que nas noites, seguidas de dias de frio e de chuva, Joana procurava o calor da cama, cedo. Era como se todas as noites tivesse um encontro marcado com alguém, quase sempre à mesma hora... rumava ao vale e aninhava-se...pegava num livro, que ao fim de duas ou três páginas se aconchegava ao seu lado. Algumas vezes ela não queria, mas o corpo implorava-lhe que fosse procurar o calor e o conforto...

O livro, tinha noites inteiras que a ficava a observar...enquanto o candeeiro não se apagava...observa-lhe os gestos, o rosto moreno, os olhos fechados, os lábios carnudos, o nariz elegante, o contorno dos maxilares bem definidos, os cabelos castanhos soltos ... a respiração, ora tranquila ora ofegante, os sorrisos de prazer ou as expressões de sofrimento, de medo, causados pelos sonhos bons e pelos sonhos maus, que nunca chegavam a ser pesadelos. Joana, nunca tinha pesadelos.

Aquele livro conhecia-a a dormir como ninguém...e, recordava muitas vezes, durante o dia, a pele suave das suas mãos e o toque dos seus dedos, e tinha saudades de ser tocado por ela. À noite, satisfazia o desejo quando ela lhe pegava, sempre com cuidado e saboreava aquele manusear cuidadoso e ternurento. O odor que ambos exalavam no ar era reconhecido com prazer, pelos dois. Sabia que Joana o amava, mais que a qualquer outro, apesar de inúmeras vezes de a ele se lhe juntarem outros, que permaneciam na sua mesa de cabeceira pelo tempo necessário de serem consumidos, lidos só pelo prazer da leitura...depois arrumava-os de novo noutra divisão da casa e nunca mais lhes dava atenção. 

Com ele, era diferente, já havia alguns anos e nem um nem outro se cansavam de se olhar, de se ver, de se tocar. Ambos adoravam o silêncio e as palavras.

Quando Joana por alguma razão está ausente, é ele que dorme e que sonha com ela...Ainda hoje, ...


quarta-feira, 12 de maio de 2010

Paula Rego (Lisboa -1935)

...ainda bem que a pintura e os pintores existem... e abençoadas mãos que nos fazem brilhar os olhos...quando o sol já se fechou, a esperança se desvaneceu e a vida voltou de novo a ser apenas vida, simplesmente...

Absorvo e alimento a sede de conhecimento, os traços, as cores, a rudeza e a beleza das imagens em que o masculino e o feminino se fundem para aprender outras artes, outros sons, outros significados... e aproveitar  para renascer de novo...

sábado, 8 de maio de 2010

Place To Be...

...como os dedos viajam em corpo de piano... Este é o meu corpo, estes são os teus dedos...tu és o meu piano...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"Peço desculpa pelo atraso..."


Amigos, peço desculpa pelo atraso, distraí-me com as horas, ...

andei a fazer uns cursos de decoração via net onde aprendi muito e resolvi decorar a  casa onde vos recebo todos os dias, ... nesta tarefa, passei horas a mudar os móveis de sítio, a escolher as cores, a colocar quadros nas paredes, .... para que se sentissem bem por aqui, sempre que aparecessem. Ainda faltam uns pormenores (coisas de mulheres), mas está praticamente pronta...



Ah..., é verdade, os livros permanecem arrumados nos mesmos sítios  e como sempre espalhados pela casa toda, para que não tenham que os procurar ...  ah, e ainda,  a porta permanece aberta, basta empurrar e entrar,... mesmo que eu tenha saído para fazer qualquer coisa...

bjs Alfa


terça-feira, 27 de abril de 2010

BOOK



Amigos, resolvi agradecer as minhas quase cinco mil visitas com este vídeo, que achei fantástico.

Assim... se por acaso aparecerem aqui por casa e eu não estiver, já sabem....a porta está aberta, não precisam bater...entrem, sentem-se e peguem numa qualquer história que escrevi para mim e para vocês e leiam... Logo, logo estarei de volta...Um beijo enorme para todos os que me visitam e o desejo de que amem os livros, as letras e as palavras tanto quanto eu.

PS: ... é absolutamente inovador o Manual de Instruções que aqui vos deixo à disposição, uma descoberta  BRILHANTE...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

... pontos protagonistas ...


De tear na mão, cansada de tentar aprender a fazer, ora ponto cruz, ora ponto pé de flor, nesta tarde de sol sentada na varanda da minha casa amarela... e depois de várias tentativas, para conseguir o ponto de rebuçado para o pudim do jantar, que quase me levou ao ponto de cometer uma loucura, porque estas coisas da culinária nunca foram o meu forte… adiei, sem culpa aquela tarefa...

...voltei às minhas práticas mais recentes...e, fui ver o que se passava do outro lado do mundo, fiz uma pausa e ingressei na blogosfera...

Penetrei no Google,... o ponto de partida, foi uma "investigação" divertida sobre “pontos”, inspirada por uma amiga, a M…

...resolvi começar pelos pontos que me sugeriam mais curiosidade e que me eram menos vulgares... 

Principiei pela Numismática e apresentei-me aos pontos ocultos;… transitei pela Geometria e aprendi os pontos colineares;… em seguida, cursei pela Economia e encontrei-me com os pontos percentuais, ... insisti e fui até à Geografia, onde simplesmente indiquei os pontos cardeais e pensei, vou voltar à  (H)história, e revivi vários pontos turísticos…. não era nada disto que eu queria …

Procurava pontos quentes, pontos ardentes,... que celebrassem o sol da Primavera que pouco antes me tinha acalentado..., pontos fortes, entusiasmantes e inspiradores que me fizessem abandonar a insipidez dos primeiros pontos... desejava pontos de viragem, pontos de mudança, ... que me arrebatassem para outras paragens... Podiam até ser pontos fracos, mas tinham que ser pontos vitais,  que me e que vos presenteassem como a semente de uma dissertação interessante e proporcionassem a quem lia a oportunidade de conversas delirantes e fogosas, ...três pontinhos... Parecem insignificantes estes, pela alcunha, mas quando intitulados de reticências (o seu verdadeiro nome) nunca  ficam sem sentido nem significado… pelo contrário, concedem oportunidades a quem os escreve e a quem os lê… de ir, ir, ir até...onde ambicionarmos, ...sem fim...

Pesquisa após pesquisa, ponto após ponto, invadida por tantos pontos sem ordem aos safanões para que escrevesse sobre eles… e, eu, ainda sem ter assente, por que ponto ia nascer esta prosa,… permanecia perturbada, confusa e precisava rapidamente de fazer um ponto de ordem,...

…nessa altura sem esperar, à minha frente, depois de um ponto final, descubro atrás de um ponto verde, o ponto de interrogação abraçado ao ponto de exclamação,...ouvi dizer, que tinham combinado às escondidas de toda a pontuação, um ponto de encontro... parei a observar, não me denunciei...

Meu Deus, era emocionante vê-los, envolvidos de tal forma que não deram pela minha presença...

…as interrogações tinham desaparecido e as exclamações também, …misturavam os papéis, sobrepunham pontos …os pontos dos dois pontos, umas vezes estavam em cima, outras em baixo, outras vezes de cabeça para cima outras de cabeça para baixo, encaixados, enrolados, ...mas sempre pegados como se fossem um só e enredavam-se e tocavam em novos pontos, … ligados naquele instante, descobriam todos os pontos um do outro, os fracos, os fortes, os A’s, os B’s, os C’s e por aí adiante…

...Por fim, o Match Point, Balle de Match, Punto Decisivo, Matenball, Beslissend Punt… e, foram Numismática, Economia, Geografia e acabaram por fazer História ao mesmo tempo…

Foi nesta altura, em que ao fundo entrevia um ponto de luz, que finalmente preenchi a insatisfação e o vazio de até aqui, ...descobri, …um dia escrevo sobre eles, sobre os pontos erógenos…

Consumada a descoberta, o sol desaparecia, voltavam as nuvens e a chuva, …

Acabei, aninhada do sofá da sala a ver um filme de 1971, Vanishing Point, … ao meu lado, abandonado, estava o tear que não entendeu a importância do que ali se passara e no ar pairava ainda o cheiro a caramelo que cobria o pudim com prazer e lhe conferia uma cor sedutora.

...por ali me deixei ficar, matando o tempo, ...até que à memória acorreu uma imagem vulgar desta metáfora...
constatava que o amor às vezes, em tardes de sol, na praia se resumia ao compromisso de alguém que passava o tempo e espremer pontos negros nas costas de outro alguém, …que imagem sórdida

I know,... it’s just another one point of view…

terça-feira, 13 de abril de 2010

...Solo...



Sucedem-se os dias,...
uns atrás dos outros, sem descanso...
que me levam a Vida aos poucos... 

Ainda bem, que hoje são dias de Sol e de calor...
Não me importo que sejam os dias de Sol a roubar-me os minutos de Vida, de existência...

Estou na praia, "na minha praia".  Não quero “ninguém” ao pé de mim... a não ser o mar, o vento, o sol e um pássaro ou outro de passagem...sem delonga em demasia...

Procurei o lugar mais afastado para me aconchegar na areia,
onde não escutasse vozes...

onde não houvesse atropelos,
onde não se decepassem conversas, estados de alma, alegrias extemporâneas, pesadelos que dão lugar a outros, crenças sem fundamento, raciocínios que não passam de falácias, ideias arquitectadas e destruídas, vidas tristes, mortes, sacrifícios, penitências, obrigações, deveres e coacções...histórias de Terra.

Hoje,
quero apenas emergir, nesta paz de espírito e significar-me simplesmente...

Peguei no caderno que me olha inquieto e na caneta que sente falta do calor da minha mão e mergulho, escrevo… mais palavra, menos palavra, o que me apetece.... sem regras, sem trilho e sem compasso…sem disciplina
e, principalmente, sem amarras...

Lá longe, ouço o latir de um cão que se diverte...é um latir afável, onde se percebe a sua alegria e o entusiasmo por uma bola irrequieta e colorida...as suas patas sacrificam a areia por onde passa em pulos nervosos...e, eu ouço a areia a gemer. Ouço também sorrisos de crianças que chapinham na água, a tremer...e ouço ainda, a bola a queixar-se e a pedir para não ser nem ponta peada com tanta força, nem segura com tanta determinação pelos dentes do cão que se diverte...

Ouço os peixes, os pequenos que cursam a passo acelerado atrás da progenitora, seguidos do progenitor...

Ouço os búzios do mar, que se desfazem em perdões pelo que nunca fizeram, mas de que foram acusados. Incriminados, por alguém que lhes pegou e não conseguiu ouvir o mar que está dentro deles...

Ouço os voos picados das gaivotas que mergulham, para comer uma das crias dos peixes...ouço tudo... e finjo, que não ouço nada...

Aqui, ao perto, ouço-me apenas a mim....a respirar, pausadamente,...e ouço os meus pensamentos, aqueles que ninguém lê porque nunca foram escritos.

Ontem, foi dia de me ouvir, a mim...

segunda-feira, 22 de março de 2010

...as palavras de Sofia...


Sofia adorava sentir-se abraçada pelas palavras...

Gostava delas, proferidas, lidas, escritas de todas as formas e feitios, temperadas ou sem qualquer tempero,  …sussurradas, ...balbuciadas, grandes, pequenas, fáceis ou complexas, tímidas, extrovertidas, doces, agri-doces, amargas, picantes, azedas e chocantes... nuas, camufladas... no lugar errado ou no momento certo…desde que fossem palavras, proferidas, ditas ou escritas e que significassem alguma coisa...que existissem. Só assim, se sentia acompanhada e nunca só... no vazio.

Senão… bastava-lhe que fossem palavras apenas, desordenadas, soltas, fora do lugar e Sofia entretinha-se a dar-lhes sentidos (uma vez que, já tinham nascido com significados), juntando-as carinhosamente, mesmo que fosse para falar de afectos do avesso… mas sempre com o propósito de traduzir o que sentia no momento…

Aprendeu com a idade que: “As palavras são como bolhas de sabão, frágeis e inconsistentes e que desaparecem quando em contacto prolongado com o ar”…ou, será antes, a nossa memória que não tem capacidade para guardar todas elas, principalmente e apenas aquelas que nos sabem bem ouvir...Não será necessário dar exemplos, afinal cada um de nós tem as suas preferências…até nas palavras!

Quando começou a soletrar, mesmo mal, ainda, uma ou outra, percebeu rapidamente que algumas correspondiam a acções e que através delas se satisfaziam desejos… só muito mais tarde, compreendeu o poder que estas tinham (pouco antes de se dissiparem em contacto com o ar)…serviam para muitas coisas, até para subverter conceitos (infelizmente) …

… cresceu, sempre procurando aprender cada vez mais e mais palavras, sem nunca se sentir satisfeita…
Muitos diálogos, textos e escritos depois... sentiu-se capaz de expressar, com as palavras quase exactas (sem excessos,… mas às vezes ainda com defeitos) o que pretendo dizer ao mundo, à vida e ás pessoas por quem e onde passei e que me tocaram. Ás vezes sentia-se dotada.

Pegou em todas elas e resolveu dizer a toda a gente o que sentia, o que achava, o que queria, o que não queria, o que desejava fazer, o que não deixava que lhe fizessem, do que mais gostava, do que não queria saber, …. e disse tanto, tanto, tanto, que quase esgotou o seu vocabulário…mas disse tudo e continua a dizer…

Descobriu ainda com o passar dos anos, que as definições e as dimensões, que cada um de nós tem da mesma palavra, são diferentes e por consequência obtemos respostas diferentes ás mesmas perguntas ou simples observações… e que até a entoação que utilizamos, pode e influencia a resposta…tudo isto, apesar do código linguístico ser “o mesmo”. Na verdade, muitas vezes, continuamos sem nos entender…falo, de palavras ditas.

As palavras escritas, são diferentes… não se dissipam… mas não têm som ???, a não ser de quem as lê. Sofia gosta delas de igual modo, porque lhe criam imagens, ilustram e alimentam os seus e os nossos sonhos, os nossos devaneios, as nossas loucuras, as nossas diferentes vidas…

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Esta, será definitivamente, a minha maior herança e o meu rasto... Mesmo que não tenha dito, escrito ou lido nada…

Na vida… nada amo tanto, quanto as palavras… Sem elas tenho consciência que a comunicação seria ainda mais difícil… mas com elas, também tenho consciência de que não é nada fácil.

...mas ainda, não descobri outra forma tão expressiva e eloquente de me comunicar com os outros…
Para completar este código, quando falamos, usamos os olhos, a boca, o sorriso ou a ausência dele, as expressões faciais múltiplas, as mãos, a expressão corporal,… que, de forma sábia nos traem ou completam as palavras que proferimos.

Apesar de tudo, sinto-me muitas vezes ainda à procura da palavra certa para encadear uma conversa …  sem equívocos …
…sem este código, seria impraticável qualquer intercâmbio  entre  moi, les uns, et les autres.

 Ainda bem, que me ensinaram a ler. Obrigado, professora Emília, …


terça-feira, 16 de março de 2010

Preciso....das letras e das palavras

Assolada por uma vontade extrema de escrever, de saudades das letras e das palavras...

Cheia de “coisas” cá dentro que me fazem transbordar, de tanta vontade que sinto de dizer e de contar...
Sinto-me água, a dobrar no limite a borda de um copo em direcção descendente!

Tenho saudades de expressar sentires, desejos e afectos em frases carregadas de palavras acasaladas, misturadas... que rodopiam e se confundem como amantes numa cama ou na folha de papel...


...preciso, preciso, preciso...contar ao Mundo....preciso voltar a escrever rapidamente, estou a desesperar....preciso de tempo....de um bocadinho...fazem-me falta as palavras.

sábado, 6 de março de 2010

...Homem sem alma e sem corpo...


Em que acreditas tu Homem sem alma e sem corpo, que pareces ter.
Em que o afecto te espera todos os dias...
Em quem confias?

Para além das contrariedades que te seguem
Dos mares que cruzas, que ao mesmo tempo fazem de ti um lendário
Sonha... atalha esse coração …que se encontra enclausurado num armário

Desassossegas as almas, bates palmas, riste p'ra dentro
Sempre à espera do momento
Nu e cru… como só tu, sabes causar

Busca dentro de ti essa ventura, dá-te a oportunidade perdida
Abandona-te à única verdade da Vida
Que, apenas depois de vivida, realmente passa a sê-lo

Não te escudes, não te defenses, deixa-te atravessar
Serenamente... morosamente... ao sabor do vento
Ficando atento
Nada mais ocorrerá senão o que ambicionares
(ou será esse o receio?)
Cuidares seres tu o primeiro, sem tormento, sem flagelo e sem dúvidas...
tu! Nu e cru!...do  outro lado do Mundo!…

O sonho espera por ti, continua a confiar, deita a cabeça no seu seio
e tenta deixares-te embalar...

...vais encontrar outras gentes, outras sementes... outro ar.


quarta-feira, 3 de março de 2010

Alguém está a chegar do mar!...







- Alguém está a chegar do mar!

Anunciava um destes dias uma brisa turbulenta, à boca cheia, para quem quisesse ouvir. Conforme passava, repentina, deixava um rasto de curiosidade e intriga...

As árvores, os pássaros, as plantas e os animais esbugalhavam os olhos e os ouvidos ao som do canto das sereias, que ao mesmo tempo descansavam em cima de um rochedo ao luar...

Era noite. Estava escuro. E, o frio estava de saída para dar oportunidade a uma temperatura mais amena e mais húmida também.

...distraídos pelo som, os animais e as plantas davam a devida atenção às notícias, acabadas de deixar! Alguém está a chegar do mar, alguém está a chegar do mar...

... e, enquanto isso... o Luar aproveitava a distracção de todos, abria os braços e abraçava a Terra cobrindo-a de beijos, o que iluminava tudo o que era ser vivo à sua volta. Estava feliz e queria partilhar essa felicidade com a vida.

A Terra, apesar de triste, pelo desassossego causado por todos os homens que viviam dentro dela, ainda mantinha um sorriso, como esperança. O sorriso das crianças...

Vista de longe, do cosmos... ela, permanecia como sempre vestida de azul e verde e, era, surpreendentemente bonita.

...O mar, brilhava sempre que a luz lhe tocava...

A Terra tremia, sempre que o Luar a abraçava...

...ultimamente então, ele não queria outra coisa,.... senão abraça-la... no Haiti no Japão, no Chile, em qualquer parte do mundo, sempre que tivesse vontade e onde lhe apetecesse.

Contudo, teimosa... ela, nunca quis ouvir o que os seus amigos lhe sussurravam ao ouvido, baixinho, para não acordar as crianças. Mas, de um refrão de uma canção melódica, ouviam-se os seres vivos a cantar:
 – Teeeeerrrrraaaa, o Luar gosta de ti...


 ... a Terra pensava e vacilava...

As agruras, porque tinha passado, passados milhares e milhares de anos, de tantos amigos que tinha tido e que muitos tinha visto extinguir ... faziam-na, .... entre outras coisas... também, duvidar do Luar...

Ele era lindo, penetrante, luminoso...mas, também escorregadio, desconfiado e descrente... A desconfiança que sentia, tornava-o, cauteloso....mas também “carrasco” de si próprio e indefeso... por isso, preferia “reinar na sua praia”, na sua orla de conforto e pouco mais... Ela, por seu lado, era... (tudo o que vocês quiserem)... girava sem parar em torno do seu eixo...e, fazia rodopiar quem por ali passava.... mas, muitas vezes, igualmente indefesa...


...

Até hoje e já lá vão milhões de anos...o que os atrai um para o outro, é o mesmo de antigamente, ...


...

Assim, quando deito a cabeça na almofada, penso:

- Quando é que a Terra voltará a tremer?!!....e, concluo sempre o mesmo: - Um dia destes... quando o Luar, a voltar a abraçar...

...e, afinal quem é que chegou do Mar? Distraí-me, fiquei sem saber....


terça-feira, 2 de março de 2010

Amar e sonhar ao mesmo tempo...

Sonhava Eu, um dia amar… e viver sem vaguear
Por entre portas e janelas de um jardim…

Queria Eu,… amar-te sempre
Fazer de ti, um sonho ardente
E adormecer envolvida em jasmim…

Amava Eu a Vida toda... por inteiro
Por ela ser e não ser alegre e triste,
Sonhando sempre, por defeito, ser primeiro
Amaste em sonho… bem devagar… depois fugiste


Perdia eu, o nascer, o pôr do Sol…
Perdia eu, aquela Lua derradeira…

...E…queria ela, ser um dia apenas sua... sem magoar, só para sonhar que tudo existe!